27 fevereiro, 2007


OSCAR 2007

Na noite da 79ª entrega do Oscar da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, membros votantes foram generosos distribuindo estatuetas douradas para documentário apresentado por Al Gore, esta sim uma “verdade inconveniente”, desprezou o filme Babel que recebera sete indicações e ganhou apenas em uma categoria, melhor trilha sonora, colaborou para a derrota em dose dupla do veterano Clint Eastwood que dirigiu dois longas-metragens sobre a Segunda Guerra Mundial como A Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jima, que ganhou o Oscar de Edição de Som, e ainda encontrou espaço e tempo para premiar uma cantora como Atriz coadjuvante, Jennifer Hudson por sua atuação no superestimado e pseudo-musical Dreamgirls – em busca de um sonho, resolveu dar um novo suspiro a carreira de Allan Arkin, premiando-o com o Oscar de Melhor Coadjuvante e ao filme Pequena Miss Sunshine na categoria Melhor Roteiro, e conseqüentemente desbancando o franco-favorito, Eddie Murphy, que não gostou nem um pouco de ter perdido o que seria uma luz no fim do túnel para sua carreira há muito estagnada. Fora isso tudo correu como o planejado.

A cerimônia realizada no último domingo, 25 de fevereiro com transmissão pela Rede Globo com apresentação desastrosa da jornalista Maria Beltrão, deslumbrada e analfabeta no quesito Cinema, e ainda a presença inócua e os comentários óbvios do ator José Wilker. No palco, este ano a apresentação ficou por conta da atriz e comediante Ellen Degeneres, que segundo a brilhante Maria Beltrão, “é homossexual assumida”, ou seja além de não entender nada de cinema,ainda ousou tecer comentários sem nenhuma relevância.

Depois de três décadas e sete indicações,o cineasta Martin Scorsese levou sua estatueta de melhor diretor pelo filme Os Infiltrados, estrelado por Jack Nicholson, Leonardo Di Caprio e Matt Dillon. A produção ganhou ainda mais três categorias - Melhor Filme, Montagem para Thelma Schoonmaker, três vezes vencedora por filmes de Scorsese - Touro Indomável, Os Bons Companheiros e agora Os Infiltrados) colaboradora habitual de Scorsese e Roteiro adaptado de William Monahan baseado na trilogia Conflitos Internos (China)

Scorsese recebeu seu tão esperado Oscar das mãos de ninguém menos que Steven Spielberg que anunciou a premiação ao lado de Francis Ford Copolla e George Lucas. Em seguida, Jack Nicholson anunciou o vencedor do Oscar de Melhor Filme – Os Infiltrados. A presença de Spielberg, Lucas e Copolla para anunciar o Melhor diretor me pareceu, perdoe a repetição, óbvia demais. Lembrei quando Roberto Benini ganhou o Oscar por A vida é bela (alguém se lembra dessa bomba?) das mãos de ninguém menos que Sophia Loren. E como não poderia deixar de comentar quando Pedro Almodóvar ganhou seu Oscar anunciado por Antonio Banderas? Mas Oscar é assim mesmo.

Mais uma vez Scorsese teve de enfrentar Clint Eastwood pela estatueta dourada. Eastwood venceu em 2005 com Menina de Ouro contra O Aviador de Martin Scorsese, que desta vez venceu com Os Infiltrados contra Cartas de Iwo Jima, de Eastwood, que já acumula dois Oscar de Melhor diretor, pelo citado Menina de Ouro e por Os Imperdoáveis, realizado em 1992.

Quanto às categorias de Melhor Ator e Atriz, nenhuma surpresa quando os vencedores foram anunciados – Forest Whitaker pela sua atuação em O último Rei da Escócia e Ellen Mirren em A Rainha, que dedicou seu Oscar à Rainha Elizabeth II.

Ellen Mirren tinha sido indicada duas vezes com Atriz coadjuvante em As loucuras do Rei George (1994) e Assassinato em Gosford Park (2001). Quanto a Forest Whitaker, esta foi sua primeira indicação e com a premiação a Academia finalmente reconhece o talento deste ator que em 1988 ganhou a Palma de Ouro de Melhor Ator no Festival de Cinema de Cannes pela sua interpretação do músico de Jazz Charlie Parker em Bird, dirigido por Clint Eastwood. Whitaker agora faz parte da seleta galeria onde figuram atores negros como Sidney Poitier, Denzel Washington e Jamie Foxx.

O veterano Alan Arkin, que andava esquecido pela Academia, venceu na categoria Ator coadjuvante pelo filme Pequena Miss Sunshine, produção independente que conquistou críticos e boa parcela do público. Alan havia sido indicado duas vezes como Melhor Ator pelos filmes Os Russos estão chegando (1966) e Porque tem que ser assim (1968). A estreante Jennifer Hudson levou o Oscar de Melhor Atriz coadjuvante por sua atuação no musical Dreamgirls, em busca de um sonho. Mais uma para se juntar as premiadas esquecidas como Mira Sorvino e Marisa Tomei.

O Oscar de Melhor Filme Estrangeiro ficou com A vida dos outros, que acabou roubando a premiação do aclamado Labirinto do Fauno, que em compensação levou três Oscar para casa – Direção de Arte; Maquiagem e Fotografia. Quanto ao badalado quebra-cabeça cinematográfico Babel dirigido pelo mexicano Alejandro González Iñarritu, que mesmo tendo no elenco astros como Brad Pitt e Cate Blanchett, e sete indicações, acabou por ganhar apenas um Oscar de Melhor trilha sonora original.

Babel, graças a sua estrutura complexa e com um roteiro costurados por várias histórias e personagens que se entrecruzam como Short Cuts, de Robert Altman e Magnólia, dirigido por Paul Thomas Anderson, sendo um pouco mais radical e acabou por dividir a crítica que taxou o filme de confuso, mas o título do filme diz tudo – Babel quer dizer confusão.

A noite também foi recheada de homenagens como a feita ao maestro e compositor italiano Ennio Morricone que recebeu um Oscar Honorário pelo conjunto da obra entregue por Clint Eastwood que recordou o fato de ter se tornado um Astro do cinema justamente pelo filme Por um punhado de dólares do diretor Sérgio Leone, que teve trilha sonora composta por Morricone, que ali fazia sua estréia.

A homenagem foi emocionante e quando Morricone entrou o maestro foi aplaudido de pé pela platéia. Morricone compôs trilhas para filmes como Cinzas do paraíso, de Terence Malick, Era uma vez na América (1984), de Sérgio Leone, Bugsy (1991), de Barry Levinson, Os Intocáveis (1987), de Brian Di Palma, Cinema Paradiso (1989), de Giuseppe Tornatore, A Missão (1986), de Rolland Jaffe e centenas de outras produções importantes da História do Cinema.

A Academia prestou homenagem aos escritores e roteiristas mostrando cenas de filmes em que estes profissionais são protagonistas. Filmes como Quando Paris alucina (1964), de Richard Quine e O Crepúsculo dos Deuses (1950), de Billy Wilder, ambos protagonizados por William Holden; Testa de ferro por acaso (1976), de Martin Ritt; com Wood Allen; Farrapo Humano (1945), de Billy Wilder e estrelado por Ray Milland; Tiros na Broadway (1994), de Woody Allen, e tendo como protagonista John Cusack; Louca Obsessão (1990), de Rob Rainer, onde James Caan interpreta um escritor que sofre um acidente de carro e fica a mercê de um fã e Ed Wood (1994), de Tim Burton, com Johnny Depp no papel do “pior diretor do mundo”, Edward D. Wood.

Outra homenagem da noite foi aos vencedores do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, categoria que passou a existir a partir de 1956, sendo o primeiro a vencedor, A Estrada da Vida, de Federico Fellini, que ganharia mais três vezes com Noites de Cabíria (1957); Oito e meio (1963) e Amarcord (1974), em segundo lugar estão Ingmar Bergman com três produções – A Fonte da Donzela (1960), Através de um espelho (1961) e Fanny e Alexander (1983); seguido pelo diretor italiano, Vittorio Di Sica com dois filmes – Ontem, hoje, amanhã (1964) e O jardim dos Finzi-Contini (1971).

Foram exibidos também cenas dos filmes, Meu Tio (1958), de Jacques Tati, Orfeu Negro (1959), de Marcel Camus, Um homem, uma mulher (1966), de Claude Lelouch, Z (1969), de Constantin Costa-Gavras, Investigação sobre um cidadão acima de qualquer suspeita (1970), de Elio Petri, O discreto charme da burguesia (1973), de Luis Buñuel, A noite americana (1973), de François Truffaut, A História Oficial (1985), de Luis Puenzo, A Festa de Babete (1987), de Gabriel Axel, Pelle, o conquistador (1988), de Billie August e Cinema Paradiso (1989), de Giuseppe Tornatore.

Como se tornou tradicional nas festas de entrega do Oscar, a Academia recorda aqueles que faleceram no ano anterior. In memoriam mostrou cenas com Glenn Ford (Gilda); Bruno Kirby (O Poderoso Chefão, parte 2), Alida Valli (O Terceiro Homem), Red Buttons, Gino Pontercorvo (Queimada), June Allyson, Gordon Parks (Shaft), Philippe Noiret (Cinema Paradiso), Carlo Ponti, Peter Boyle (Táxi Driver), Sidney Sheldon (Casal 20, Jeannie é um gênio), Jack Palance (Os brutos também amam), Mako (Conan, o destruidor), Jack Warden (Mais forte que o ódio) e Robert Altman (O Jogador), foram alguns dos homenageados.

A Academia também exibiu um clipe editado pelo diretor Michael Mann, de Miami Vice, mostrando como o cinema enxerga os Estados Unidos através de filmes como O Poderoso Chefão, Ali, Faça a coisa certa, O Nascimento de uma Nação, Rastros de ódio, O Aviador, A Cor púrpura, Blade Runner, Magnólia, Cães de Aluguel, Fúria sanguinária, Doutor Fantástico, O Soldado anônimo, O Resgate do soldado Ryan, Forrest Gump e até o recente Rock Balboa.

Outro ponto interessante da noite foi à forma encontrada para anunciar os indicados nas categorias de Roteiro original e roteiro adaptado. Trechos dos respectivos roteiros foram lidos enquanto as imagens dos filmes indicados eram mostradas.

A apresentadora do Oscar este ano foi a atriz e comediante Ellen Degeneres cujas piadas, que pareciam mesmo sem graça, saíram prejudicadas pela tradução simultânea feita por Elisabete Hart e pelas inconvenientes intromissões da apresentadora e jornalista Maria Beltrão, que a Rede Globo escalou. Pior ainda foram os comentários óbvios e pessoais do ator José Wilker que pela terceira vez conseguiu estragar a noite. Wilker alegou não torcer por Martin Scorsese pelo simples fato de que ele dirigira uma refilmagem de uma produção chinesa (Conflitos internos). Pura bobagem, pois o clássico Ben-Hur, ganhador de onze Oscar também era uma refilmagem.

Pior ainda foi a tal Maria Beltrão que deu inúmeras mancadas durante a apresentação do Oscar. Por exemplo, ela trocou Federico Fellini ou “Felino”; o compositor da trilha sonora do filme Babel, é argentino, mas para Maria Beltrão, ele é “mexicano”, enquanto a apresentadora do Oscar, Ellen Degeneres fazia suas piadas sem graça, Elisabete Hart fazia a tradução simultânea, no entanto, Beltrão falava mais alto e ao mesmo tempo, resultado: muitas vezes o espectador ficou sem saber o que fora dito. Outra afirmação incorreta da apresentadora foi dizer que a Cate Blanchett teria ganho um Oscar de Melhor Atriz por sua atuação no filme Elizabeth (1998), mas quem ganhou o prêmio foi mesmo Gwyneth Paltrow por Shakespeare apaixonado, de John Madden. Cate Blanchett ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 2004, interpretando Katherine Hepburn em O Aviador, de Martin Scorsese.

Lembramos com tristeza que até agora apenas quatro dos filmes candidatos ao Oscar deste ano foi exibido nos cinemas de Porto Velho – Carros, Superman, o retorno, Os Infiltrados, que foi exilado no Cine Brasil, e O Ilusionista, que está sendo exibido no Cine Rio.

Nossa última esperança é aguardar que sejam lançados em dvd e que cheguem nas locadoras, filmes como Babel, Labirinto do Fauno, A Rainha, O último Rei da Escócia, Maria Antonieta (que ganhou o Oscar de Melhor Figurino), o documentário Uma verdade inconveniente (ganhador de duas estatuetas – Melhor documentário e Melhor música), Dreamgirls, O Grande truque, Pequena Miss Sunshine, e muitos outros que ainda não tivemos oportunidade de assistir.

Até o ano que vem quando o Oscar completa oitenta anos. Um forte abraço.


Humberto Oliveira