05 janeiro, 2007


"Por toda a minha vida" especial em homenagem a Elís Regina

A programação, dita especial, de fim de ano realmente deixou muito a desejar. No mais foram exibidos os programas de sempre com algumas raras modificações e todas as redes, como de praxe, exibiram as suas retropectivas, como acontece todos os anos, shows com sumidades do que eles chamam de "música popular brasileira", mas nada que empolgue, a não ser aos que já se acosturamaram com a mediocridade geral que assola a televisão brasileira.
No entanto, algo estranho aconteceu - e não foi nenhuma invasão extraterrestre ou a descoberta de que Bush é um clone - Não, nada disso. Apenas o especial exibido pela Rede Globo na quinta-feira, 28 de dezembro - Por toda a minha vida - em homenagem a cantora Elís Regina. Um programa raro e que me pegou de surpresa.
o programa, apresentado por Fernanda Lima, acompanha a trajetória da cantora desde criança, a adolescência quando começou a cantar num programa de rádio, a ida para o Rio de Janeiro, a amizade com Milton Nascimento e Gilberto Gil na época artistas desconhecidos, as brigas com Ronaldo Bôscoli com quem acabaria casando, os sucessos como Arrastão, as polêmicas, e cenas de arquivo mostrando Elís cantando com Tom Jobim, a interpretação personalíssima para Atrás da porta de Francis Hime e Chico Buarque, o segundo casamento com o também músico César Camargo Mariano e depoimentos emocionados e emocionantes de Miéle, Nelson Motta, da mãe de Elís, de Jair Rodrigues que apresentou com a cantora o programa o Fino da Bossa e gravou três discos com músicas cantadas no programa e muito mais.
A Globo caprichou na homenagem, no entanto nem tudo é perfeito. Ocorreram alguns pequenos deslizes como por exemplo, a data do nascimento da cantora é 17 de março e não 18, como é dito no programa pelo cantor Jair Rodrigues, em momento algum é citada a Rede Record que promoveu os festivais, a causa da morte de Elís, a parte dramatizada ficou artificial e parecendo teatro filmado, no entanto o pecado maior, a escalação de Fernanda Lima para apresentar o programa. A moça não conseguiu ser natural em nenhum momento. Realmente uma bola fora. Talvez o fato dela ser gaúcha como Elís justifica sua presença no especial, justifica, mas não explica. Mesmo assim Por toda minha vida, foi um momento raro, valioso e inesquecível. Afinal de contas Elís Regina não mericia menos.
Infelizmente alguns artistas consagrados não quiseram participar, como Caetano Veloso, que questionou o porque de um especial para lembrar os vinte e cinco anos da morte da cantora. Uma besta. Outro que também declinou do convite foi João Bosco que inclusive teve inúmeras composições gravadas por Elís em vários discos e ainda um lp somente com músicas dele e de Aldir Blanc, e ainda Chico Buarque e César Camargo Mariano que quiseram ler o rotreiro das perguntas e do programa, mas não foram atendidos. Uma pena.
Ao mesmo tempo devo lembrar que o campositor João de Barro falecido na véspera de natal também deveria ganhar um especial semelhante, pois Braguinha, como também conhecido o compositor foi um dos mais importantes da nossa música. E assim como ele, outros compositores como Herivelto Martins, Zé Keti, Noel Rosa, Ary Barroso, Cartola,Ataulfo Alves, apenas para citar alguns, também merecem um especial com pelo menos um hora de duração ou mais.
Não custa nada sonhar.
Humberto Oliveira
Mais um longo dia para Jack Bauer

O agente especial da UCT (Unidade Contra Terrorismo) Jack Bauer está de volta. A Rede Globo está exibindo desde a última segunda-feira, 01 de janeiro, a quinta temporada da série 24 Horas. Na temporada anterior,Jack precisou simular sua morte, e agora uma nova trama foi armada para incriminá-lo como o assassino do ex-presidente David Palmer, que foi morto com um tiro na garganta. Mas Jack tem de ser rápido para provar sua inocência.
Michelle Drexlle morre num atendado à bomba e Tony Almeida sai gravemente ferido. No entanto mais um alvo está na mira dos bandidos, ninguém menos que Chloe O'Brian, que consegue avisar e pedir ajuda a Bauer, que logo que sabe da morte de Palmer entra em ação para salvar Chloe e limpar seu nome.
Primeiro David Palmer, depois Michelle e Tony e ainda Chloe. As quatro pessoas que sabiam que Jack Bauer ainda estava vivo. Duas estão mortas, uma ferida e uma ainda vive. Os terroristas perseguem Cloe, que acaba salva por Jack que ainda detona alguns terroristas,mas um deles está gravemente ferido, no entanto Bauer quer respostas. O bandido confessa que matou Palmer e isso sela seu destino.
Estes são alguns acontecimentos do primeiro episódio desta temporada, que para muitos que já a assistiram é uma das melhores, depois da primeira temporada,que em minha opinião continua imbatível apesar de alguns deslizes como a fita de vigilância da sala de interrogatórios da UCT onde aparece Nina Mayers matando Jamie. Quem assistiu lembra muito bem que as câmeras se vigilância foram desligadas e então como o que aconteceu foi gravado? Isso sem falar no emabte final entre Jack e os mercenários pagos pela família Drazen. Antes de Jack invadir o esconderijo, vemos que existem ali cerca de dez ou mais homens, porém como num passe de mágica alguns desaparecem! Será que Jack Bauer é mágico? Mas isso não tira o brilho deste que é um dos melhores seriados produzidos para televisão.
O quinto dia mais longo da vida de Jack Bauer está apenas começando e muitas surpresas e reviravoltas esperam pelo espectador no decorrer dos próximos episódios de 24 Horas. Então fique ligado para não perder nenhum minuto.
24 Horas está sendo exibida de segunda à sexta logo após o Jornal da Globo.
A Globo programou a exibição nos próximos meses da segunda temporada de Lost e a primeira de Prison Break, que em breve comentaremos aqui.
Humberto Oliveira

03 janeiro, 2007




BATE PAPO Especial

Gosto é algo que não se discute, se lamenta. No cinema essa velha máxima tem quer ser aplicada em dobro, pois falar de filmes é tratar com gostos pessoais, sem que exista um coletivo unânime sobre o que foi melhor ou pior. Por isso mesmo essa lista que o meu amigo e articulista Humberto prepara todo ano é uma delícia de ironia e humor. Levar a sério fica a critério de cada um, mas eu levo bastante a sério, pois de certa forma, muito do que ele comenta tem sua razão de ser - e olha que ainda acho que ele pega leve com algumas obras.

*Cinema é diversão escapistas por natureza e ainda assim é uma forma de expressão que pode ser cultuada dentro dos aspectos das suas propostas, por isso tantos gêneros, escolas, estilos. A escola européia é mais tendenciosa a cabecices, com um tempero a mais na arte e menos na diversão (ainda que seja um paradoxo). O cinema americano é do tipo “pipoca” mesmo, pop, com seus efeitos, histórias mirabolantes (e cada vez mais rasas em sua maioria), por isso ao tratar do que é melhor e pior, a questão é subjetiva, e essa coluna especial do ALMANAQUE propõe uma mostra do que rolou nos cinemas de Porto Velho, ou seja, dos filmes que foram exibidos nas telas de cinema da família Lacerda. E olha que faltou muita coisa. Por isso mesmo leitor perdoe se na lista dos melhores apareçam filmes como: “Crash”, “King Kong”, “Munique” e “Marcas da Violência”, que são de 2005, mas essas produções só foram exibidas por aqui no início de 2006 mesmo.

*E tenha certeza, é uma tarefa árdua e ao mesmo tempo prazerosa, todos os filmes comentados nesse Especial foram assistidos. Aliás, tarefa essa que muitas vezes acompanho, para ver se as avaliações dos filmes estão sendo feitas à contento pelo articulista. Portanto internauta leitor, aproveite e curta esse Especial. E saiba que, como o próprio autor ressalta, a lista comentada é uma opinião formada e ela é sucinta à críticas e elogios.

*Encerro esse Bate Papo ressaltando que essa edição 40 do ALMANAQUE é um motivo de celebração, pois durante esse tempo Humberto apresentou dicas de livros, CDS e DVDs, teceu opiniões e críticas e apresentou uma oportunidade ao leitor de conhecer um pouco mais os meios e os produtos de consumo que fazem da “cultura pop” uma diversão salutar de conhecimento e entretenimento. Por tudo isso, espero comentar mais 40, 80, 120, 160 edições comemorativas. Parabéns ao nobre companheiro de labuta e amigo de longa data. Vamos a diversão! (Marcos Souza – um dos editores do site)


Enquanto isso na Sala de Justiça – Viva o cinema brasileiro

O cinema brasileiro,como acontece todos os anos, continua a luta pela “retomada” com os mesmos ingredientes, ou seja, misturando novos talentos e veteranos. 2006 sem sombra de dúvida foi o ano do diretor Daniel Filho que emplacou dois filmes – Se eu fosse você, com Glória Pires e Tony Ramos, que levou mais de três milhões de espectadores aos cinemas, e o a comédia de humor negro – Muito gelo e dois dedos de água. O primeiro foi exibido no Cine Veneza com relativo sucesso, quanto ao segundo, só Deus sabe quando o veremos.

Mas nem só de Daniel Filho vive o cinema brasileiro. Tivemos também a oportunidade de assistir filmes adaptados de peças que fizeram sucesso como A Máquina (João Falcão) e o Irma Vap - O Retorno dirigido por Carla Camurati, baseado na peça O mistério de Irmã Vap que assim como o filme foi protagonizada pelos atores Marco Nanini e Ney Latorraca. Irmã Vap – O retorno esteve em cartaz no Cine Veneza, depois Cine Rio e foi encerrar sua carreira rondoniense no Cine Brasil.

Os veteranos também marcaram presença. Por exemplo Nelson Pereira dos Santos com Brasília 18%, Cacá Diegues em mais uma parceria com o ator José Wilker no obscuro O maior amor do mundo e Sérgio Rezende com Zuzu Angel protagonizado por Patrícia Pillar. Os três foram exibidos em Porto velho, mas apenas o último conseguiu ficar em cartaz mais de duas semanas.

Os rondonienses puderam assistir também ao último trabalho do humorista Bussunda, que faleceu durante a copa do mundo este ano, no péssimo Seus problemas acabaram, dirigido por José Lavigne, habitual diretor do grupo no programa Casseta e planeta urgente da TV Globo. No elenco além dos “cassetas” o insuportável Murilo Benício. Um fiasco e uma ode ao mau gosto e ao bom senso. Para completar passou despercebida a comédia sem graça protagonizada pelo ator Alexandre Borges, que pagou o maior mico na sua participação no capenga Gatão de meia idade, mas o pior acaba de estrear Xuxa Gêmeas, mas uma abominação que a “titia dos baixinhos” chama de cinema! Desta vez Xuxa,que não satisfeita em massacrar a arte de interpretar com seus personagens sem nenhuma profundidade,resolveu fazer papel duplo,ou seja, o espectador paga um ingresso,mas leva duas Xuxas, isso é dose para leão. A trama não existe e as interpretações são as piores possíveis. Xuxa Gêmeas é uma desculpa da protagonista para reunir nulidades barulhentas como Ivete Sangalo, Marcos Pasquim e outros canastrões globais. Um horror.

Infelizmente ou felizmente muitos filmes nacionais não foram exibidos em nossas parcas telas de cinema como o citado Muito Gelo e Dois Dedos de Água de Daniel Filho; Anjos do Sol; O ano em que meus pais saíram de férias; Árido movie, O céu de Suely; A Concepção; Crime delicado; Estamira; Fica comigo esta noite; Mulheres do Brasil e Boleiros 2. Realmente uma pena.

O cinema brasileiro trava uma batalha desigual com as superproduções norte americanas que investem cada vez mais dinheiro em efeitos visuais e digitais esquecendo que de vez em quando faz bem para a platéia assistir a um filme com roteiro bem escrito,bem dirigido e bem interpretado. Mas vamos deixar de sonhos que a fila está andando e o espectador quer sempre o melhor lugar para apreciar o espetáculo.

Apertem os cintos que o piloto sumiu – Os piores de 2006

A parte mais difícil não é apontar os piores. É arranjar espaço na matéria para tanta bomba. Impossível dizer quais dos filmes que citarei a seguir é o pior do ano, pois o páreo é duro e a concorrência,desleal.

Um dos piores filmes do ano e sem dúvida deve ter sido uma boa pancada no ego inflamado do ex-Indiana Jones, Harrison Ford que protagonizou o fraquíssimo Firewall - Segurança em Risco dirigido por um tal de Richard Loncraine. Acompanhando Ford ao fundo do poço o resto do elenco, Paul Bettany e Virginia Madsen. Cá entre nós. Vocês lembram qual o último filme de Harrison Ford que fez sucesso? Não. Pois é, nem eu.

Seguindo o campo minado encontramos outra pérola. Um filme que durante muitos anos esteve no limbo cinematográfico,mas que infelizmente encontrou uma brecha no sistema e conseguiu ver a luz dos refletores. Estou falando do lamentável e desnecessário Instinto Selvagem 2 com direção de Michael Cotton-Jones, que uniu-se a Sharon Stone para realizarem este verdadeiro caça-níqueis. O resultado não poderia ser outro – fracasso.

Você acha que acabou? Que nada. Tem mais armadilhas esperando por você. Por exemplo Todo Mundo em Pânico 4. Será que os produtores ainda não perceberam que a série deu o que tinha de dar? Óbvio que não. O primeiro não era nenhuma obra prima e os subseqüentes foram caindo na vala comum. Mas existem aquelas pessoas que adoram.

Outra decepção foi o suspense Sentinela dirigido sem criatividade por Clark Johnson, o mesmo do fraco SWAT. Sentinela traz Michael Douglas no piloto automático numa trama que não decola de tão inverossímil e previsível. Ainda no elenco, Kiefer Sutherland, repetindo o Jack Bauer do seriado 24 Horas e Eva Langoria, a Gabriele de Desesparate Housewifes.

Isso sem mencionar nulidades como A Casa do lago, filmes romântico e açucarado que une Keanu Reaves e Sandra Bullock muitos anos depois do sucesso de Velocidade Máxima. Vê-se claramente que a química entre os dois ficou para trás. A casa do lago é recomendado apenas para casais sem crises existenciais. O filme não é ruim, apenas esta história não precisava de uma nova versão.

O cineasta John Moore acertou a mão quando realizou o remake do clássico o Vôo da Fênix há dois anos. Agora o mesmo diretor entrega e estraga o que estava bom. A refilmagem de A profecia, dirigido originalmente por Richard Donner. John Moore quis ser reverente demais com o filme original e acabou fazendo uma cópia desbotada e sem brilho. Lamentável.

A internet é uma grande arma de marketing que Hollywood aprendeu finalmente a usar a seu favor, no entanto, os efeitos colaterais são terríveis. Vejamos este Serpentes a bordo dirigido por David Elis e estrelado por um caricato, mas sempre competente Samuel L. Jackson. Este filme é um absurdo do começo ao fim. Tudo começa quando um rapaz testemunha um assassinato. O rapaz é visto e passa a ser perseguido pelos bandidos que querem mata-lo a qualquer preço. É aí então que entra em cena, Samuel L.Jackson, parodiando Shaft, e salva a testemunha e juntos embarcam num avião para Los Angeles. Tudo parece estar bem,mas de repente cobras e serpentes de todas as espécies começam a atacar todos os passageiros. A partir de então os absurdos tomam de conta da história e a correria começa e um a um ou aos pares vão sendo eliminados pelas serpentes venenosas. Pilotos mortos, passageiros em pânico e um avião prestes a cair. Daí até o final será muita adrenalina. O filme fez o maior sucesso,mas de tão ruim chega a ser bom. É trash puro,recheado de clichês e diálogos que parecem saídos da novela teen tipo Rebeldes ou Malhação. Assista,mas desligue o cérebro.

E para terminar esta parte dedicada aos piores do ano nos cinemas estão as produções Click (Frank Coraci) protagonizada pelo comediante Adam Sandler (eu chamei Sandler de comediante!) que divide a cena com a bela,mas pouco expressiva Kate Backinsale (Van Helsing, Pearl Harbor) . Sandler consegue um controle remoto que o faz voltar o tempo ou pará-lo e acaba usando o aparelho em proveito próprio. Comédia sem graça, mal dirigida e dispensável.

Exatamente como esta continuação intitulada Anjos da noite – a evolução dirigido por Len Wiseman,marido na vida real da protagonista do filme, Kate Backinsale (a mesma de Click) e Scott Speedman. Para ser sincero a tal evolução do subtítulo deve se referir aos milhões gastos nos efeitos especiais para mascarar a mediocridade da produção que sofre desde o primeiro filme,da síndrome de Matrix.

Nem piores e nem melhores – apenas filmes para passar o tempo

Mas muitos filmes que não podemos dizer que não são bons,no entanto não podemos afirmar que sejam ruins,ou seja,ficaram no meio termo. Alguns dos filmes que cito a seguir foram exibidos nos nossos cinemas, muitos deles fizeram sucesso,que não se explica,afinal de contas o público nem sempre está interessado numa boa história e sim em apenas num passatempo para se divertir durante uma hora e meia ou duas horas.

Muitos gostaram da versão para cinema da famosa série dos anos 80 Miami Vice que chega ao cinema pelas mãos de um velho conhecido, o diretor Anthony Mann, (o mesmo de Colateral e Fogo contra fogo). A versão Miami Vice dos anos 2006 traz os atores Collin Farrel, exagerando nos trejeitos e na cara de moço rebelde,mas sensível, e seu companheiro é James Fox, que depois do Oscar por Ray, não tem acertado a mão, serve apenas de escada para o estrelismo de Farrel. Pouca ação, imagem granulada,fotografia horrível, e interpretações pouco convincentes. Vale uma olhada.

Outra produção exibida no Cine Veneza foi A Dama na Água de M. Night Shyamalan, que ficou pouco tempo em cartaz.O filme está longe dos ótimos Sexto sentido e Corpo Fechado. Os filmes anteriores do diretor, Sinais e A Vila também não foram bem recebidos, mas sem dúvida ele ainda tem muito que dizer como cineasta.

Tom Cruise realmente não quer largar Ethan Hunt e junto com o seu novo queridinho J. J. Abrams barbarizam em Missão: Impossível III. O filme,que recebeu elogios até do exigente Rubens Ewald Filho, não tudo isso. Mas verdade seja dita – o filme é bem produzido,porém um fiapo de história não é o suficiente para fazer desta terceira seqüência um bom filme. Missão: Impossível III, apenas diverte. E só. Ao sairmos do cinema logo esquecemos o filme.

Outro campeão de vendas de ingressos foi o esperado e superestimado O Código Da Vinci de Ron Howard baseado no famoso livro homônimo que causou polêmica pelo seu conteúdo contestado pela igreja católica. Na verdade, o livro e o filme dele originado não passam de entretenimento que alguns levaram a sério demais. Claro que isso acabou por beneficiar a bilheteria desta superprodução protagonizada por Tom Hanks,que não estava nos seus melhores dias como ator. O filme de Ron Howard não passa de uma mera curiosidade bem produzida.

O Segredo de Brokeback Mountain de Ang Lee sofreu o boicote dos membros da academia ao perder o Oscar de melhor filme para Crash – no limite, não que este filme não seja melhor,mas o tema do primeiro influenciou os votos dos conservadores da academia. Brokeback Moutain é um filme bem feito, com interpretações acima da média dos dois atores que interpretam papéis difíceis e passivos de preconceitos. Na verdade, muito barulho por nada.

Outros filmes que podemos mencionar são - Memórias de uma Gueixa – Bob Marshall com Ziyi Zhang e Ken Watanabe; o filme catástrofe Poseidon Wolfgan Petersen; duas produções com Bruce Willis - 16 Quadras de Richard Donner e Xeque-Mate de Paul McGuigan e para finalizar esta parte, O Soldado anônimo terceiro longa-metragem de Sam Mendes (Beleza Americana e Estrada para a perdição).

Perdendo o bonde da história – Filmes que não veremos tão cedo a não ser em dvd?

007 – Cassino Royale de Martin Campbell com Daniel Craig assumindo o papel de James Bond. Campbell dirigiu Goldeneye e A máscara do Zorro); Filhos da esperança – Afonso Cuarón, com Clive Owen (Closer); Fonte da vida – Darren Aronofsky com Hugh Jackman e Raquel Weisz; O grande truque – Christopher Nolan (Amnésia/Batman Begins) com Hugh Jackman (X – Men) Christian Bale (Batman Begins); O ilusionista – Neil Burger com Edward Norton; Os Infiltrados – Martin Scorsese com Jack Nicholson, Leonardo Di Caprio,Matt Dillon; O labirinto de Fauno – Guilherme Del Toro – Blade 2 e Hellboy.; A Conquista da honra de Clint Estwood com Ryan Phillipp (Crash) e Adam Beach; Três enterros que marcou a estréia na direção de Tommy Lee Jones; Vôo United 93 de Peter Greengrass;; Ponto Final - Match Point – Woody Allen; Boa Noite e Boa Sorte de George Clooney estes últimos disponíveis em dvd.

Com vocês os melhores de 2006 – Pelo menos na minha humilde opinião

Existem filmes e filmes. E cada um tem a sua opinião sobre qual é o melhor,o pior, e assim por diante. A cada ano que passa fica mais difícil fazer estas escolhas sem cometer injustiças. Por isso dividi esta sessão em três blocos distintos como 01) filmes inesquecíveis; 02) Filmes importantes e 03) filmes divertidos.

03) Filmes divertidos. O critério que usei aqui foi bem simples. Nada impede que uma produção cheia de efeitos especiais não mereça respeito por parte dos críticos. Se os fãs gostam e por isso faz sucesso então quem sou eu para falar mal. Nesta lista relaciono:

X- Men - O Confronto Final de Bret Ratner que entrou no barco quando Brain Singer partiu para trazer de volta o Homem de Aço. Ratner conseguiu realizar um filme a altura dos anteriores reunindo antigos personagens e novos com maestria. X- Men O confronto Final segue a receita perfeita do ótimo entretenimento que reúne criatividade,qualidade, efeitos especiais sem esquecer da importância dos personagens. Como sempre o destaque vai para Ian Mckallen como Magneto e Hugh Jackman,perfeitamente à vontade como Wolverine.

Outros filmes que colocamos nesta lista é Superman - O Retorno dirigido com paixão por Bryan Singer. Talvez este excesso de paixão pelo personagem e pelo filme de Richard Donner Superman, o filme, tenham impedido que o jovem cineasta voasse mais alto. O filme tem cenas antológicas como o salvamento do avião, o tiro no olho, o vôo com Lois Lane, o salvamento no mar, mas dá escorregões como um roteiro pouco criativo e pouca ação. Fora isso, Superman, o retorno tem tudo para agradar, e mesmo não sendo o sucesso esperado de bilheteria em breve veremos uma continuação. Para o alto e avante!

E finalizando esta parte o campeão de bilheteria Piratas do Caribe: O Baú da Morte de Gore Verbinsck que reúne quase todo o elenco do primeiro filmes para dar continuidade às aventuras do pirata Jack Sparrow, sem sombra de dúvida continua sendo o melhor atrativo para o público. Excessos tiram um pouco o brilho desta seqüência que foi filmada junto com a terceira parte que deve estrear em 2007. Mesmo assim um dos melhores filmes de aventura do ano. Porém, o primeiro – Piratas do Caribe, a maldição do Pérola Negra continua imbatível.

02) Filmes importantes. Relacionei aqui quatro filmes feitos por cineastas que sempre têm algo a mais a contar para o espectador. E cada um deles conquistou merecidamente o seu público.

O polêmico Spike Lee brindou o público com o um filme onde nada parecer ser o que é. O Plano perfeito é uma mistura eficaz de roteiro criativo, elenco afiado e direção inspirada. Um dos melhores filmes do ano. Outra produção de destaque é o aclamado V de Vingança baseado na obra de Alan Moore e dirigido por James Mctiegue que traz no elenco à talentosa Nathalie Portman. V de Vingança é um soco no estomago.

Destacamos também o mais novo trabalho de Brian De Palma em Dália Negra, De Palma realiza aqui um noir em cores baseado em fatos reais. Ótima reconstituição de época e os preciosismos técnicos típicos do diretor. Pena que o filme ficou apenas uma semana em cartaz no Cine Veneza.

2006 foi o ano que dois cineastas, entre eles Peter Greengrass com Vôo United 93 (citado acima) e Oliver Stone com Torres Gêmeas tentaram recontar histórias trágicas do fatídico 11 de setembro. O primeiro não foi exibido em Porto Velho e tivemos de assistir em dvd, que por sinal demorou muito a chegar. Quanto ao segundo, ficou cerca de três semanas em cartaz, estreou no Cine Veneza e depois foi para o Cine Rio. O filme dividiu a crítica e o público. O que posso dizer sem me prolongar muito é que nem parece um filme de Oliver Stone, mas como sempre é latente a preocupação com os detalhes e o realismo. Um bom filme,mas que ás vezes resvala para a pieguice, sem no entanto prejudicar o desenvolvimento da história.

03) Filmes inesquecíveis. Todos os anos centenas de filmes são realizados. Muitos são exibidos nos cinemas e outros saem direto em dvd. Os cinco que relaciono abaixo foram exibidos no cinema e estão disponíveis em dvd. Estes filmes feitos por diretores com estilos diferentes formam o quinteto que reúne os melhores do ano.

Apesar de ser uma refilmagem de um clássico de 1933, o King Kong de Peter Jackson, o consagrado diretor da trilogia Senhor dos Anéis, é na verdade uma homenagem ao cinema e ao filme original dirigido por Merian C.Cooper. Tudo no filme de Jackson funciona. Os atores, os efeitos especiais a serviço da história e tudo mais. King Kong foi lançado em 2005,mas foi exibido em Porto Velho em 2006 alcançando grande sucesso.

O filme dirigido por Steven Spielberg, Munique, foi bastante criticado e também ignorado na entrega do último Oscar. Bobagens à parte, Munique figura entre os melhores filmes do cineasta que conta uma história forte com um realismo contundente. O elenco encabeçado por um surpreendente Eric Bana,dá conta do recado com profissionalismo,entre eles o ator Daniel Craig, o novo James Bond. Nesta lista de melhores de 2006, este filme não poderia ficar de fora.

Outro filme que pudemos assistir apenas em dvd foi o aclamado Crash – no limite, que com justiça ganhou o Oscar de Melhor filme de 2006. O filme dirigido por Paul Higgis, roteirista do também premiado Menina de ouro que ele roteirizou para Clint Eastwood dirigir. O filme traz um elenco de estrelas como Sandra Bullock e ótimas performances de Don Cheadle e Matt Dillon, realmente surpreendente como um policial racista. Crash mostra várias histórias, tipo Short Cuts – Cenas da vida de Robert Altman, envolvendo vários personagens que acabam se envolvendo em situações que os levam ao limite. Certamente um dos melhores filmes de 2006.

Depois de tanta conversa chegamos ao que interessa. Os filmes que relaciono a seguir foram para mim os melhores filmes do ano. Claro que os citados acima também fazem parte, mas estes dois são produções que mexeram, emocionaram, fizeram refletir. Certamente eles não foram campeões de bilheteria e não usam e nem abusam de efeitos especiais, no entanto, suas histórias e a forma como são contadas fizeram deles os campeões em minha opinião. São eles - Marcas da violência de David Cronemberg e O jardineiro fiel de Fernando Meirelles com Ralph Fienes e Raquel Weisz.

O filme dirigido por David Cronemberg mostra Viggo Mortensen (Senhor dos Anéis) como um pacato dono de uma lanchonete numa pequena cidade do interior dos Estados Unidos. Um dia chegam dois homens armados que tentam assaltar o local,no entanto, a reação dele é fulminante e os dois bandidos acabam mortos. A partir deste incidente seu verdadeiro passado vem à tona.

Ainda no elenco, Maria Bello, que protagoniza duas ótimas e realistas cenas de sexo com Mortessen; Ed Harris como um assassino profissional numa caracterização sinistra. Isso sem falar na participação especial de Willam Hurt, realmente impagável. Marcas da violência é um filme que faz refletir. Um soco no estômago. Dói na hora,mas serve para você pensar um pouco sobre o quanto a vida é frágil.

Quanto a estréia internacional do cineasta brasileiro Fernando Meirelles com o excelente O Jardineiro fiel, baseado no livro do escritor John Le Carré e tendo no elenco Ralph Fienes numa interpretação contida, mas impactante, e a ganhadora do Oscar de Melhor atriz do Oscar 2006, a talentosa Raquel Weisz, que graças a sua atuação deixa de ser conhecida apenas pelo seu papel no divertido A Múmia e em sua continuação. Em o Jardineiro Fiel, ela interpreta um ativista que desaparece. Primeiro querem fazer crer que ela fora morta por um amante,mas o marida dela,vivido por Fienes parte em busca da verdade. Verdade esta que lhe custara a vida também.

Depois do sucesso de Cidade de Deus muitos acharam que fora um golpe de sorte de Meirelles. Com O Jardineiro fiel ele mostrou que veio para ficar e provou seu talento.

BATE PAPO Especial

Gosto é algo que não se discute, se lamenta. No cinema essa velha máxima tem quer ser aplicada em dobro, pois falar de filmes é tratar com gostos pessoais, sem que exista um coletivo unânime sobre o que foi melhor ou pior. Por isso mesmo essa lista que o meu amigo e articulista Humberto prepara todo ano é uma delícia de ironia e humor. Levar a sério fica a critério de cada um, mas eu levo bastante a sério, pois de certa forma, muito do que ele comenta tem sua razão de ser - e olha que ainda acho que ele pega leve com algumas obras.

*Cinema é diversão escapistas por natureza e ainda assim é uma forma de expressão que pode ser cultuada dentro dos aspectos das suas propostas, por isso tantos gêneros, escolas, estilos. A escola européia é mais tendenciosa a cabecices, com um tempero a mais na arte e menos na diversão (ainda que seja um paradoxo). O cinema americano é do tipo “pipoca” mesmo, pop, com seus efeitos, histórias mirabolantes (e cada vez mais rasas em sua maioria), por isso ao tratar do que é melhor e pior, a questão é subjetiva, e essa coluna especial do ALMANAQUE propõe uma mostra do que rolou nos cinemas de Porto Velho, ou seja, dos filmes que foram exibidos nas telas de cinema da família Lacerda. E olha que faltou muita coisa. Por isso mesmo leitor perdoe se na lista dos melhores apareçam filmes como: “Crash”, “King Kong”, “Munique” e “Marcas da Violência”, que são de 2005, mas essas produções só foram exibidas por aqui no início de 2006 mesmo.

*E tenha certeza, é uma tarefa árdua e ao mesmo tempo prazerosa, todos os filmes comentados nesse Especial foram assistidos. Aliás, tarefa essa que muitas vezes acompanho, para ver se as avaliações dos filmes estão sendo feitas à contento pelo articulista. Portanto internauta leitor, aproveite e curta esse Especial. E saiba que, como o próprio autor ressalta, a lista comentada é uma opinião formada e ela é sucinta à críticas e elogios.

*Encerro esse Bate Papo ressaltando que essa edição 40 do ALMANAQUE é um motivo de celebração, pois durante esse tempo Humberto apresentou dicas de livros, CDS e DVDs, teceu opiniões e críticas e apresentou uma oportunidade ao leitor de conhecer um pouco mais os meios e os produtos de consumo que fazem da “cultura pop” uma diversão salutar de conhecimento e entretenimento. Por tudo isso, espero comentar mais 40, 80, 120, 160 edições comemorativas. Parabéns ao nobre companheiro de labuta e amigo de longa data. Vamos a diversão! (Marcos Souza – um dos editores do site)


CINEMA 2006

Enquanto isso na Sala de Justiça – Viva o cinema brasileiro

O cinema brasileiro,como acontece todos os anos, continua a luta pela “retomada” com os mesmos ingredientes, ou seja, misturando novos talentos e veteranos. 2006 sem sombra de dúvida foi o ano do diretor Daniel Filho que emplacou dois filmes – Se eu fosse você, com Glória Pires e Tony Ramos, que levou mais de três milhões de espectadores aos cinemas, e o a comédia de humor negro – Muito gelo e dois dedos de água. O primeiro foi exibido no Cine Veneza com relativo sucesso, quanto ao segundo, só Deus sabe quando o veremos.

Mas nem só de Daniel Filho vive o cinema brasileiro. Tivemos também a oportunidade de assistir filmes adaptados de peças que fizeram sucesso como A Máquina (João Falcão) e o Irma Vap - O Retorno dirigido por Carla Camurati, baseado na peça O mistério de Irmã Vap que assim como o filme foi protagonizada pelos atores Marco Nanini e Ney Latorraca. Irmã Vap – O retorno esteve em cartaz no Cine Veneza, depois Cine Rio e foi encerrar sua carreira rondoniense no Cine Brasil.

Os veteranos também marcaram presença. Por exemplo Nelson Pereira dos Santos com Brasília 18%, Cacá Diegues em mais uma parceria com o ator José Wilker no obscuro O maior amor do mundo e Sérgio Rezende com Zuzu Angel protagonizado por Patrícia Pillar. Os três foram exibidos em Porto velho, mas apenas o último conseguiu ficar em cartaz mais de duas semanas.

Os rondonienses puderam assistir também ao último trabalho do humorista Bussunda, que faleceu durante a copa do mundo este ano, no péssimo Seus problemas acabaram, dirigido por José Lavigne, habitual diretor do grupo no programa Casseta e planeta urgente da TV Globo. No elenco além dos “cassetas” o insuportável Murilo Benício. Um fiasco e uma ode ao mau gosto e ao bom senso. Para completar passou despercebida a comédia sem graça protagonizada pelo ator Alexandre Borges, que pagou o maior mico na sua participação no capenga Gatão de meia idade, mas o pior acaba de estrear Xuxa Gêmeas, mas uma abominação que a “titia dos baixinhos” chama de cinema! Desta vez Xuxa,que não satisfeita em massacrar a arte de interpretar com seus personagens sem nenhuma profundidade,resolveu fazer papel duplo,ou seja, o espectador paga um ingresso,mas leva duas Xuxas, isso é dose para leão. A trama não existe e as interpretações são as piores possíveis. Xuxa Gêmeas é uma desculpa da protagonista para reunir nulidades barulhentas como Ivete Sangalo, Marcos Pasquim e outros canastrões globais. Um horror.

Infelizmente ou felizmente muitos filmes nacionais não foram exibidos em nossas parcas telas de cinema como o citado Muito Gelo e Dois Dedos de Água de Daniel Filho; Anjos do Sol; O ano em que meus pais saíram de férias; Árido movie, O céu de Suely; A Concepção; Crime delicado; Estamira; Fica comigo esta noite; Mulheres do Brasil e Boleiros 2. Realmente uma pena.

O cinema brasileiro trava uma batalha desigual com as superproduções norte americanas que investem cada vez mais dinheiro em efeitos visuais e digitais esquecendo que de vez em quando faz bem para a platéia assistir a um filme com roteiro bem escrito,bem dirigido e bem interpretado. Mas vamos deixar de sonhos que a fila está andando e o espectador quer sempre o melhor lugar para apreciar o espetáculo.

Apertem os cintos que o piloto sumiu – Os piores de 2006

A parte mais difícil não é apontar os piores. É arranjar espaço na matéria para tanta bomba. Impossível dizer quais dos filmes que citarei a seguir é o pior do ano, pois o páreo é duro e a concorrência,desleal.

Um dos piores filmes do ano e sem dúvida deve ter sido uma boa pancada no ego inflamado do ex-Indiana Jones, Harrison Ford que protagonizou o fraquíssimo Firewall - Segurança em Risco dirigido por um tal de Richard Loncraine. Acompanhando Ford ao fundo do poço o resto do elenco, Paul Bettany e Virginia Madsen. Cá entre nós. Vocês lembram qual o último filme de Harrison Ford que fez sucesso? Não. Pois é, nem eu.

Seguindo o campo minado encontramos outra pérola. Um filme que durante muitos anos esteve no limbo cinematográfico,mas que infelizmente encontrou uma brecha no sistema e conseguiu ver a luz dos refletores. Estou falando do lamentável e desnecessário Instinto Selvagem 2 com direção de Michael Cotton-Jones, que uniu-se a Sharon Stone para realizarem este verdadeiro caça-níqueis. O resultado não poderia ser outro – fracasso.

Você acha que acabou? Que nada. Tem mais armadilhas esperando por você. Por exemplo Todo Mundo em Pânico 4. Será que os produtores ainda não perceberam que a série deu o que tinha de dar? Óbvio que não. O primeiro não era nenhuma obra prima e os subseqüentes foram caindo na vala comum. Mas existem aquelas pessoas que adoram.

Outra decepção foi o suspense Sentinela dirigido sem criatividade por Clark Johnson, o mesmo do fraco SWAT. Sentinela traz Michael Douglas no piloto automático numa trama que não decola de tão inverossímil e previsível. Ainda no elenco, Kiefer Sutherland, repetindo o Jack Bauer do seriado 24 Horas e Eva Langoria, a Gabriele de Desesparate Housewifes.

Isso sem mencionar nulidades como A Casa do lago, filmes romântico e açucarado que une Keanu Reaves e Sandra Bullock muitos anos depois do sucesso de Velocidade Máxima. Vê-se claramente que a química entre os dois ficou para trás. A casa do lago é recomendado apenas para casais sem crises existenciais. O filme não é ruim, apenas esta história não precisava de uma nova versão.

O cineasta John Moore acertou a mão quando realizou o remake do clássico o Vôo da Fênix há dois anos. Agora o mesmo diretor entrega e estraga o que estava bom. A refilmagem de A profecia, dirigido originalmente por Richard Donner. John Moore quis ser reverente demais com o filme original e acabou fazendo uma cópia desbotada e sem brilho. Lamentável.

A internet é uma grande arma de marketing que Hollywood aprendeu finalmente a usar a seu favor, no entanto, os efeitos colaterais são terríveis. Vejamos este Serpentes a bordo dirigido por David Elis e estrelado por um caricato, mas sempre competente Samuel L. Jackson. Este filme é um absurdo do começo ao fim. Tudo começa quando um rapaz testemunha um assassinato. O rapaz é visto e passa a ser perseguido pelos bandidos que querem mata-lo a qualquer preço. É aí então que entra em cena, Samuel L.Jackson, parodiando Shaft, e salva a testemunha e juntos embarcam num avião para Los Angeles. Tudo parece estar bem,mas de repente cobras e serpentes de todas as espécies começam a atacar todos os passageiros. A partir de então os absurdos tomam de conta da história e a correria começa e um a um ou aos pares vão sendo eliminados pelas serpentes venenosas. Pilotos mortos, passageiros em pânico e um avião prestes a cair. Daí até o final será muita adrenalina. O filme fez o maior sucesso,mas de tão ruim chega a ser bom. É trash puro,recheado de clichês e diálogos que parecem saídos da novela teen tipo Rebeldes ou Malhação. Assista,mas desligue o cérebro.

E para terminar esta parte dedicada aos piores do ano nos cinemas estão as produções Click (Frank Coraci) protagonizada pelo comediante Adam Sandler (eu chamei Sandler de comediante!) que divide a cena com a bela,mas pouco expressiva Kate Backinsale (Van Helsing, Pearl Harbor) . Sandler consegue um controle remoto que o faz voltar o tempo ou pará-lo e acaba usando o aparelho em proveito próprio. Comédia sem graça, mal dirigida e dispensável.

Exatamente como esta continuação intitulada Anjos da noite – a evolução dirigido por Len Wiseman,marido na vida real da protagonista do filme, Kate Backinsale (a mesma de Click) e Scott Speedman. Para ser sincero a tal evolução do subtítulo deve se referir aos milhões gastos nos efeitos especiais para mascarar a mediocridade da produção que sofre desde o primeiro filme,da síndrome de Matrix.

Nem piores e nem melhores – apenas filmes para passar o tempo

Mas muitos filmes que não podemos dizer que não são bons,no entanto não podemos afirmar que sejam ruins,ou seja,ficaram no meio termo. Alguns dos filmes que cito a seguir foram exibidos nos nossos cinemas, muitos deles fizeram sucesso,que não se explica,afinal de contas o público nem sempre está interessado numa boa história e sim em apenas num passatempo para se divertir durante uma hora e meia ou duas horas.

Muitos gostaram da versão para cinema da famosa série dos anos 80 Miami Vice que chega ao cinema pelas mãos de um velho conhecido, o diretor Anthony Mann, (o mesmo de Colateral e Fogo contra fogo). A versão Miami Vice dos anos 2006 traz os atores Collin Farrel, exagerando nos trejeitos e na cara de moço rebelde,mas sensível, e seu companheiro é James Fox, que depois do Oscar por Ray, não tem acertado a mão, serve apenas de escada para o estrelismo de Farrel. Pouca ação, imagem granulada,fotografia horrível, e interpretações pouco convincentes. Vale uma olhada.

Outra produção exibida no Cine Veneza foi A Dama na Água de M. Night Shyamalan, que ficou pouco tempo em cartaz.O filme está longe dos ótimos Sexto sentido e Corpo Fechado. Os filmes anteriores do diretor, Sinais e A Vila também não foram bem recebidos, mas sem dúvida ele ainda tem muito que dizer como cineasta.

Tom Cruise realmente não quer largar Ethan Hunt e junto com o seu novo queridinho J. J. Abrams barbarizam em Missão: Impossível III. O filme,que recebeu elogios até do exigente Rubens Ewald Filho, não tudo isso. Mas verdade seja dita – o filme é bem produzido,porém um fiapo de história não é o suficiente para fazer desta terceira seqüência um bom filme. Missão: Impossível III, apenas diverte. E só. Ao sairmos do cinema logo esquecemos o filme.

Outro campeão de vendas de ingressos foi o esperado e superestimado O Código Da Vinci de Ron Howard baseado no famoso livro homônimo que causou polêmica pelo seu conteúdo contestado pela igreja católica. Na verdade, o livro e o filme dele originado não passam de entretenimento que alguns levaram a sério demais. Claro que isso acabou por beneficiar a bilheteria desta superprodução protagonizada por Tom Hanks,que não estava nos seus melhores dias como ator. O filme de Ron Howard não passa de uma mera curiosidade bem produzida.

O Segredo de Brokeback Mountain de Ang Lee sofreu o boicote dos membros da academia ao perder o Oscar de melhor filme para Crash – no limite, não que este filme não seja melhor,mas o tema do primeiro influenciou os votos dos conservadores da academia. Brokeback Moutain é um filme bem feito, com interpretações acima da média dos dois atores que interpretam papéis difíceis e passivos de preconceitos. Na verdade, muito barulho por nada.

Outros filmes que podemos mencionar são - Memórias de uma Gueixa – Bob Marshall com Ziyi Zhang e Ken Watanabe; o filme catástrofe Poseidon Wolfgan Petersen; duas produções com Bruce Willis - 16 Quadras de Richard Donner e Xeque-Mate de Paul McGuigan e para finalizar esta parte, O Soldado anônimo terceiro longa-metragem de Sam Mendes (Beleza Americana e Estrada para a perdição).

Perdendo o bonde da história – Filmes que não veremos tão cedo a não ser em dvd?

007 – Cassino Royale de Martin Campbell com Daniel Craig assumindo o papel de James Bond. Campbell dirigiu Goldeneye e A máscara do Zorro); Filhos da esperança – Afonso Cuarón, com Clive Owen (Closer); Fonte da vida – Darren Aronofsky com Hugh Jackman e Raquel Weisz; O grande truque – Christopher Nolan (Amnésia/Batman Begins) com Hugh Jackman (X – Men) Christian Bale (Batman Begins); O ilusionista – Neil Burger com Edward Norton; Os Infiltrados – Martin Scorsese com Jack Nicholson, Leonardo Di Caprio,Matt Dillon; O labirinto de Fauno – Guilherme Del Toro – Blade 2 e Hellboy.; A Conquista da honra de Clint Estwood com Ryan Phillipp (Crash) e Adam Beach; Três enterros que marcou a estréia na direção de Tommy Lee Jones; Vôo United 93 de Peter Greengrass;; Ponto Final - Match Point – Woody Allen; Boa Noite e Boa Sorte de George Clooney estes últimos disponíveis em dvd.

Com vocês os melhores de 2006 – Pelo menos na minha humilde opinião

Existem filmes e filmes. E cada um tem a sua opinião sobre qual é o melhor,o pior, e assim por diante. A cada ano que passa fica mais difícil fazer estas escolhas sem cometer injustiças. Por isso dividi esta sessão em três blocos distintos como 01) filmes inesquecíveis; 02) Filmes importantes e 03) filmes divertidos.

03) Filmes divertidos. O critério que usei aqui foi bem simples. Nada impede que uma produção cheia de efeitos especiais não mereça respeito por parte dos críticos. Se os fãs gostam e por isso faz sucesso então quem sou eu para falar mal. Nesta lista relaciono:

X- Men - O Confronto Final de Bret Ratner que entrou no barco quando Brain Singer partiu para trazer de volta o Homem de Aço. Ratner conseguiu realizar um filme a altura dos anteriores reunindo antigos personagens e novos com maestria. X- Men O confronto Final segue a receita perfeita do ótimo entretenimento que reúne criatividade,qualidade, efeitos especiais sem esquecer da importância dos personagens. Como sempre o destaque vai para Ian Mckallen como Magneto e Hugh Jackman,perfeitamente à vontade como Wolverine.

Outros filmes que colocamos nesta lista é Superman - O Retorno dirigido com paixão por Bryan Singer. Talvez este excesso de paixão pelo personagem e pelo filme de Richard Donner Superman, o filme, tenham impedido que o jovem cineasta voasse mais alto. O filme tem cenas antológicas como o salvamento do avião, o tiro no olho, o vôo com Lois Lane, o salvamento no mar, mas dá escorregões como um roteiro pouco criativo e pouca ação. Fora isso, Superman, o retorno tem tudo para agradar, e mesmo não sendo o sucesso esperado de bilheteria em breve veremos uma continuação. Para o alto e avante!

E finalizando esta parte o campeão de bilheteria Piratas do Caribe: O Baú da Morte de Gore Verbinsck que reúne quase todo o elenco do primeiro filmes para dar continuidade às aventuras do pirata Jack Sparrow, sem sombra de dúvida continua sendo o melhor atrativo para o público. Excessos tiram um pouco o brilho desta seqüência que foi filmada junto com a terceira parte que deve estrear em 2007. Mesmo assim um dos melhores filmes de aventura do ano. Porém, o primeiro – Piratas do Caribe, a maldição do Pérola Negra continua imbatível.

02) Filmes importantes. Relacionei aqui quatro filmes feitos por cineastas que sempre têm algo a mais a contar para o espectador. E cada um deles conquistou merecidamente o seu público.

O polêmico Spike Lee brindou o público com o um filme onde nada parecer ser o que é. O Plano perfeito é uma mistura eficaz de roteiro criativo, elenco afiado e direção inspirada. Um dos melhores filmes do ano. Outra produção de destaque é o aclamado V de Vingança baseado na obra de Alan Moore e dirigido por James Mctiegue que traz no elenco à talentosa Nathalie Portman. V de Vingança é um soco no estomago.

Destacamos também o mais novo trabalho de Brian De Palma em Dália Negra, De Palma realiza aqui um noir em cores baseado em fatos reais. Ótima reconstituição de época e os preciosismos técnicos típicos do diretor. Pena que o filme ficou apenas uma semana em cartaz no Cine Veneza.

2006 foi o ano que dois cineastas, entre eles Peter Greengrass com Vôo United 93 (citado acima) e Oliver Stone com Torres Gêmeas tentaram recontar histórias trágicas do fatídico 11 de setembro. O primeiro não foi exibido em Porto Velho e tivemos de assistir em dvd, que por sinal demorou muito a chegar. Quanto ao segundo, ficou cerca de três semanas em cartaz, estreou no Cine Veneza e depois foi para o Cine Rio. O filme dividiu a crítica e o público. O que posso dizer sem me prolongar muito é que nem parece um filme de Oliver Stone, mas como sempre é latente a preocupação com os detalhes e o realismo. Um bom filme,mas que ás vezes resvala para a pieguice, sem no entanto prejudicar o desenvolvimento da história.

03) Filmes inesquecíveis. Todos os anos centenas de filmes são realizados. Muitos são exibidos nos cinemas e outros saem direto em dvd. Os cinco que relaciono abaixo foram exibidos no cinema e estão disponíveis em dvd. Estes filmes feitos por diretores com estilos diferentes formam o quinteto que reúne os melhores do ano.

Apesar de ser uma refilmagem de um clássico de 1933, o King Kong de Peter Jackson, o consagrado diretor da trilogia Senhor dos Anéis, é na verdade uma homenagem ao cinema e ao filme original dirigido por Merian C.Cooper. Tudo no filme de Jackson funciona. Os atores, os efeitos especiais a serviço da história e tudo mais. King Kong foi lançado em 2005,mas foi exibido em Porto Velho em 2006 alcançando grande sucesso.

O filme dirigido por Steven Spielberg, Munique, foi bastante criticado e também ignorado na entrega do último Oscar. Bobagens à parte, Munique figura entre os melhores filmes do cineasta que conta uma história forte com um realismo contundente. O elenco encabeçado por um surpreendente Eric Bana,dá conta do recado com profissionalismo,entre eles o ator Daniel Craig, o novo James Bond. Nesta lista de melhores de 2006, este filme não poderia ficar de fora.

Outro filme que pudemos assistir apenas em dvd foi o aclamado Crash – no limite, que com justiça ganhou o Oscar de Melhor filme de 2006. O filme dirigido por Paul Higgis, roteirista do também premiado Menina de ouro que ele roteirizou para Clint Eastwood dirigir. O filme traz um elenco de estrelas como Sandra Bullock e ótimas performances de Don Cheadle e Matt Dillon, realmente surpreendente como um policial racista. Crash mostra várias histórias, tipo Short Cuts – Cenas da vida de Robert Altman, envolvendo vários personagens que acabam se envolvendo em situações que os levam ao limite. Certamente um dos melhores filmes de 2006.

Depois de tanta conversa chegamos ao que interessa. Os filmes que relaciono a seguir foram para mim os melhores filmes do ano. Claro que os citados acima também fazem parte, mas estes dois são produções que mexeram, emocionaram, fizeram refletir. Certamente eles não foram campeões de bilheteria e não usam e nem abusam de efeitos especiais, no entanto, suas histórias e a forma como são contadas fizeram deles os campeões em minha opinião. São eles - Marcas da violência de David Cronemberg e O jardineiro fiel de Fernando Meirelles com Ralph Fienes e Raquel Weisz.

O filme dirigido por David Cronemberg mostra Viggo Mortensen (Senhor dos Anéis) como um pacato dono de uma lanchonete numa pequena cidade do interior dos Estados Unidos. Um dia chegam dois homens armados que tentam assaltar o local,no entanto, a reação dele é fulminante e os dois bandidos acabam mortos. A partir deste incidente seu verdadeiro passado vem à tona.

Ainda no elenco, Maria Bello, que protagoniza duas ótimas e realistas cenas de sexo com Mortessen; Ed Harris como um assassino profissional numa caracterização sinistra. Isso sem falar na participação especial de Willam Hurt, realmente impagável. Marcas da violência é um filme que faz refletir. Um soco no estômago. Dói na hora,mas serve para você pensar um pouco sobre o quanto a vida é frágil.

Quanto a estréia internacional do cineasta brasileiro Fernando Meirelles com o excelente O Jardineiro fiel, baseado no livro do escritor John Le Carré e tendo no elenco Ralph Fienes numa interpretação contida, mas impactante, e a ganhadora do Oscar de Melhor atriz do Oscar 2006, a talentosa Raquel Weisz, que graças a sua atuação deixa de ser conhecida apenas pelo seu papel no divertido A Múmia e em sua continuação. Em o Jardineiro Fiel, ela interpreta um ativista que desaparece. Primeiro querem fazer crer que ela fora morta por um amante,mas o marida dela,vivido por Fienes parte em busca da verdade. Verdade esta que lhe custara a vida também.

Depois do sucesso de Cidade de Deus muitos acharam que fora um golpe de sorte de Meirelles. Com O Jardineiro fiel ele mostrou que veio para ficar e provou seu talento.
Humberto Oliveira
A MENSAGEM

Roteiro de Humberto Oliveira

ENQUANTO ARNALDO E RITA SÃO MOSTRADOS, ELE FOTOGRAFANDO E ELA NO BANHO, APARECEM O TÍTULO E CRÉDITOS DO VÍDEO.

CENA DE ABERTURA E APRESENTAÇÃO. EXT. – VÁRIOS LUGARES/DIA E INT. - BANHEIRO/DIA.

ABRE A IMAGEM MOSTRANDO RITA LIGANDO SEU APARELHO DE SOM, QUE TOCA UMA MÚSICA NA VOZ DE ROBERTO CARLOS, EM SEGUIDA ELA ENTRA NO BANHEIRO PARA TOMAR BANHO. (NOME DA ATRIZ) CORTA PARA ARNALDO FOTOGRAFANDO A ESTRADA DE FERRO MADEIRA MAMORÉ (NOME DO ATOR).

CORTA PARA: RITA QUE CANTA DEBAIXO DO CHUVEIRO.

CORTA PARA: ARNALDO FOTOGRAFANDO O RIO MADEIRA.

CORTA PARA RITA LAVANDO OS CABELOS.

CORTA PARA: ARNALDO GUARDANDO SEU EQUIPAMENTO NO CARRO. CELULAR COMEÇA A TOCAR NO MOMENTO EXATO QUE ARNALDO COLOCA O CINTO DE SEGURANÇA.

CORTA PARA: RITA QUE ESTÁ SE ENXUGANDO. CORTA PARA ARNALDO VENDO QUE RECEBEU UMA MENSAGEM EM SEU CELULAR.

CORTA PARA RITA ENROLADA NA TOALHA.

CORTA PARA ARNALDO LENDO A MENSAGEM. (TÍTULO DO VÍDEO) - A MENSAGEM

CORTA PARA TELA DIVIDIDA MOSTRANDO RITA E ARNALDO SIMULTANEAMENTE, CADA UM NO SEU AMBIENTE.

RITA SAINDO DO BANHEIRO, ARNALDO CHEGANDO DE CARRO, RITA ENTRANDO NO QUARTO, ARNALDO ESTACIONANDO, RITA DEIXANDO A TOALHA CAIR, ARNALDO SAINDO DO CARRO, RITA VESTIDA CONTINUA CANTANDO DIANTE DO ESPELHO, ARNALDO ABRINDO A PORTA, RITA PENTEANDO OS CABELOS, ARNALDO ENTRANDO EM CASA E FECHANDO A PORTA. RITA FINALMENTE PRONTA.

IMAGEM ESCURECE.

MÚSICA DE ROBERTO CARLOS.

RETORNA IMAGEM.

CENA 02/ QUARTO/ INT. /DIA.

PLANO DE DETALHE MOSTRANDO MÃO DE RITA QUE DESLIGA O APARELHO DE SOM.

CORTA PARA PLANO ABERTO MOSTRANDO RITA SAINDO DO QUARTO.

CÂMERA ACOMPANHA RITA ATÉ A COZINHA.

CENA 03/COZINHA/INT./DIA.

PONTO DE VISTA DA CÂMERA MOSTRA ARNALDO DE COSTAS, PORTA DA GELADEIRA ABERTA E TOMANDO ÁGUA NO GARGALO DA GARRAFA.

CORTA PARA RITA QUE FALA:

RITA – Faz tempo que você chegou?

PLANO DE ARNALDO, QUE APENAS OLHA PARA RITA, SORRI, COLOCA A GARRAFA SOBRE A MESA E SENTA DE COSTAS PARA MULHER, QUE SE APROXIMA FALANDO:

RITA (Colocando as mãos na cintura e ficando atrás de Arnaldo) – Podia ao menos responder!

ARNALDO APENAS BALANÇA A CABEÇA POSITIVAMENTE. RITA CONTINUA ATRÁS DELE, SÓ QUE AGORA MAIS PERTO. A CÂMERA FOCALIZA RITA E ENQUANTO ELA FALA, A CÂMERA FAZ MOVIMENTO VERTICAL PARA BAIXO PARA MOSTRAR ARNALDO.

RITA – (Aborrecida) - Quantas vezes eu tenho que falar que não é pra beber água na boca da garrafa. Parece criança.

CÂMERA ACOMPANHA RITA VINDO SENTAR E FICAR DE FRENTE PARA ARNALDO. ELE CONTINUA EM SILÊNCIO E BRINCANDO COM O CELULAR.

RITA - Ih! Já vi que o dia não foi bom. Você tá com uma cara...(Mudando de tom) - Eu já não avisei que não gosto que você faça isso?

ARNALDO – (Olhando para Rita e ao mesmo tempo brincando com o celular) - Cê lembra do Cláudio?

RITA PEGA A GARRAFA E COLOCA DE VOLTA NA GELADEIRA. ELA AGORA ESTÁ DE COSTAS PARA ARNALDO.

RITA – (De forma casual e indiferente) – Cláudio? Que Cláudio?

ARNALDO – (Agora virando para Rita) - Ora, que Cláudio?

RITA – (Agora ficando de frente para Roberto e se aproximando da mesa) – Você chega, eu falo e você não responde e ainda vem falar de um tal de Cláudio e se espanta quando eu pergunto “que Cláudio?” Fala logo. Quem é esse tal de Cláudio?

ARNALDO - (Ainda sentado) – Ele teve aqui em casa um dia desses! (Com entusiasmo) - Naquele churrasco que a gente fez pra comemorar o nosso aniversário de casamento...

RITA - (De cara séria) – Ah, aquele que ficou contando aquelas piadinhas sem graça? Agora lembrei. Não fui muito com a cara dele. Achei o sujeito muito debochado! (Bebe um gole de café) – Eu não queria te falar pôr que é teu amigo, mas...(Se aproximando do marido e segurando seu rosto para que ele preste atenção) Escuta que eu vou te pedir um favor. Você não me traga mais esse tal de Cláudio aqui em casa. É só o que eu te peço.

ARNALDO – Só você que não gostou. Todo mundo que tava aqui adorou o cara. Boa praça e as suas irmãs ficaram ai e deram a maior bola pra ele.

RITA – Só você mesmo pra trazer um cara como aquele pra dentro da nossa casa! E digo mais...O mau gosto das minhas irmãs é impressionante! (Ela suspira) – Gosto não se discute, lamenta-se.

ARNALDO – Se você soubesse o que aconteceu não ficava aí falando desse jeito...

RITA - (Interrompe) – Já sei o tal foi preso e no mínimo ligou pra você. Tava na cara que um dia isso iria acontecer! Escuta o que tua mulher tá falando...

ARNALDO – (Sério) – Ele morreu.

RITA – (Como se não tivesse ouvido o que Arnaldo falou) – Desapareceu? Que nada...Deve tá é na farra! Encheu a cara e deve tá por ai...


ARNALDO – (Repete com um pouco de frieza na voz) – Presta atenção...Eu disse que ele morreu!

RITA – (Solta a xícara sobre a pia) – Como assim... Morreu...Você sabe que eu não gosto desse tipo de brincadeira.

ARNALDO – (Levantando e indo até a geladeira, abre e parece procurar alguma coisa. Ele parece sumir atrás da porta) – Atropelado. Agora de manhã. (Aparece e fala olhando sobre a porta) - Vinha atravessando a rua quando veio um carro em alta velocidade e... (Faz um barulho característico e fecha a porta da geladeira) – Pimba!

RITA - (Não consegue ficar de frente para Roberto) – Atropelado!

ARNALDO – (Num misto de frieza e ironia canalha) – Atropelado. A coisa mais natural do mundo. O cara foi jogado longe. E o motorista nem parou pra socorrer! Também o trânsito nessa cidade é uma merda e pior que fiscalização...

RITA – (Virando-se com grande dificuldade, ela encara Arnaldo) – Mas... Alguém deve ter socorrido!

ARNALDO - (Caminhando na direção da sala) – Pra que se ele morreu na hora. O máximo que podiam fazer era acender uma vela pro finado.

CENA 04/SALA/INT./DIA

RITA DESORIENTADA SAI DA COZINHA E VAI DIRETO PARA A SALA. ELA PEGA O TELEFONE E COMEÇA A DISCAR, MAS ARNALDO CHEGA ATRÁS DELA. RITA DESISTE E COLOCA O FONE NO GANCHO.

ARNALDO (Fingindo curiosidade) – Tava ligando pra quem?

RITA – (Ela tenta disfarçar a ansiedade) – Para ninguém...Uma amiga da Avon ficou de passar aqui hoje e até agora...(Mudando de assunto abruptamente) - Você viu o corpo? Viu?

ARNALDO - (Procura um cigarro e acende) – Escuta. O cara era meu amigo, mas eu não sou chegado a esse negócio de ver defunto. Mas não tem dúvida não, era mesmo o Cláudio. Reconheceram pôr causa de uma gravata que ele tava usando. Dizem até que foi de uma dona casada que ele tava traçando. Vai ver foi o marido de uma das amantes dele descobriu e...

RITA – (Patética) – Amantes? Marido? Que marido?

ARNALDO – (Sorrindo sarcástico) – Pra mim foi isso. O Cláudio tava filando a mulher de alguém, o cara descobriu e jogou o carro em cima pra se vingar.

RITA – (Começando a perder o controle) – Não pode ser! Não pode ser!

ARNALDO – (Dá uma tragada e olha para esposa) – Minha filha... Pode ser sim! Todo mundo morre.

RITA - (Começa a passar as mãos na cabeça, assanhando seus cabelos) – O Cláudio, não! Ele não meu Deus...Ele não...Nunca...O meu amor nunca...Nunca!

ARNALDO - (Dando mais uma tragada no seu cigarro) – Posso saber que história é essa de “meu amor?”.

RITA – (Chorando e rindo ao mesmo tempo) – O meu amor! O Cláudio. Você tá mentindo...Ele não tá morto! Diz pra mim que é mentira...Diz...

ARNALDO – (Já demonstrando uma pequena irritação com o escândalo que a mulher estava fazendo) – Escuta aqui mulher. Tu tá ficando doida? Tá?

RITA – (Eufórica) – Pois eu sou louca mesmo. Louca pôr aquele homem. Louca de desejo...De tesão...

ARNALDO – (Segura a mulher pelos braços) – Cala boca porra...Se não...

RITA – (Solta-se do marido e passa a desafiá-lo) – Se não o que? Vai me bater? Pois bate...Bate...

ARNALDO – (Com raiva, mas tentando falar baixo) – E ainda tem coragem pra me enfrentar assim. Fala baixo caralho, que daqui a pouco tá cheio de vizinho ai na porta pra saber o que tá acontecendo. Chega. Cala a boca!


RITA – (Empurrando o marido e indo à direção da janela ou porta e gritando) – Você não é homem...Corno...E acha que pode esconder de todo mundo? Todo mundo tá sabendo...

ARNALDO – (Puxando a mulher para perto dele) – Muito bonito!

RITA – (Mais uma vez tenta ligar, mas agora Arnaldo a impede) – Me deixa em paz seu merda.

ARNALDO – (Afastando a mulher do telefone e encostando-a contra a parede) – Então quer dizer que o cara é um chato! Que você não ia com a cara dele! Ele vem aqui fila a bóia, a fila a minha mulher e você na maior cara de pau fazendo de conta que não lembrava dele! Só falta agora dizer que vai se vestir de preto e dar uma de viúva! (Gritando) – A minha mulher ficou viúva do amante!

RITA - (Desafiadora) – Quer saber? Eu vou lá no velório dele. Vou sim senhor. Vou pôr que eu sou mais viúva do que a besta da mulher dele. Entendeu. E tem mais. Se você pensa que vai me impedir, está muito enganado.

ARNALDO – (Com ironia) – Quero só ver até onde vai o teu cinismo.

RITA – (Tentando controlar as lágrimas) – Ele era muito mais homem que você.

ARNALDO – (Começa a aplaudir) – Acabou o seu showzinho?

RITA – (Olhando com raiva para Arnaldo) – A culpa é toda sua!

ARNALDO – (Solta uma gostosa gargalhada) – Ah, era o que faltava. Você trepa com outro e ainda tem a coragem de dizer que a culpa é minha! (Põe a mão no bolso da calça e retira o celular e mostra para Rita) – Pega!

RITA – (Ela olha com indiferença para o aparelho) - Que é isso? Não tô mais a fim de ligar.

ARNALDO – (Insistindo) – Não é pra ligar, é pra ler a mensagem. Leia que você vai saber.

RITA – (Ela dá as costas para Roberto) – Seja o que for não me interessa. Me deixa...

ARNALDO – (Agressivamente pega o celular e o coloca na palma da mão de Rita) – Interessa sim. Leia. Tenho certeza que você vai gostar.

RITA – (Começa a ler a mensagem em voz alta) – “CHEGANDO EM CASA, DIZ PRA TUA MULHER QUE O CLÁUDIO MORREU, PRA VER A REAÇÃO DELA” (Rita olha aturdida o celular em suas mãos e olha para Roberto, que se aproxima dela) – Quer dizer que ele não morreu!

ARNALDO – (Com violência toma o aparelho da mão de Rita) – O teu amante tá muito vivo!

RITA – (Com alegria súbita) – O Cláudio tá vivo! O meu amor não morreu!

ARNALDO – (Dando um tapa no rosto de Rita) – Não vai soltando foguete não!

RITA – (Mais uma vez enfrenta o marido) – Bate covarde! BATE (Ela grita) – Você pode até me matar que não muda o que aconteceu! (Arnaldo segura Rita e aplica mais um tapa em seu rosto. Rita quase cai, mas Arnaldo a segura) – Ele é muito mais homem que você. (Arnaldo ainda mais furioso empurra Rita que quase perde o equilíbrio e cai, no entanto no último instante consegue se segurar num móvel) – Filho da puta...

ARNALDO CAMINHA EM SUA DIREÇÃO, MAS RITA SABENDO DO PERIGO QUE AQUILO REPRESENTA, FOGE NA DIREÇÃO DO QUARTO E TENTA TRANCAR A PORTA. ARNALDO CORRE E CONSEGUE SEGURAR A PORTA, IMPEDINDO QUE RITA A FECHE. COM VIOLÊNCIA ARNALDO EMPURRA A PORTA E AGARRA RITA, JOGANDO-A SOBRE A CAMA. RITA TENTA SE DESVENCILHAR, PORÉM O MARIDO É MAIS FORTE. ARNALDO COMEÇA A ESTRANGULAR SUA MULHER. NESTE MOMENTO A CÂMERA FAZ UM GIRO E É MOSTRADA APENAS A SOMBRA DOS DOIS NA PAREDE. ALGUNS SEGUNDOS SE PASSAM. OUVE-SE APENAS O BARULHO DAS BATIDAS DE UM CORAÇÃO QUE POUCO A POUCO VAI PARANDO. CORTE ABRUPTO PARA PLANO DE DETALHE DOS OLHOS DE ARNALDO, QUE ABREM REPENTINAMENTE. OUTRO CORTE E AGORA VEMOS QUE ELE ESTÁ EM SUA CAMA. A CÂMERA SAI DO SEU ROSTO E FAZ UM PASSEIO MOSTRANDO QUE RITA DORME SERENAMENTE AO SEU LADO. NOVO CORTE MOSTRANDO ARNALDO SENTADO NA CAMA.

CENA 05/QUARTO/BANHEIRO/INT/NOITE

ELE OLHA PARA RITA, PASSA A MÃO NO ROSTO SUADO E LEVANTA-SE. ARNALDO VAI ATÉ O BANHEIRO. ELE URINA, LAVA AS MÃOS, DEPOIS LAVA O ROSTO. IMAGEM DE ARNALDO REFLETIDA NO ESPELHO. ELE FICA SÉRIO E DEPOIS SORRI. NESTE INSTANTE O CELULAR COMEÇA A TOCAR. ARNALDO OLHA SEU RELÓGIO, QUE MARCA DEZ PARA AS SEIS DA MANHÃ. O TOQUE DO CELULAR INSISTE.

CENA 06/BANHEIRO/SALA/ INT/ NOITE

ARNALDO SE ARRASTA ATÉ A SALA, ONDE DEIXARA O CELULAR SOBRE UM MÓVEL. ELE PEGA O CELULAR E PERCEBE QUE RECEBEU UMA MENSAGEM. ESTÁ CURIOSO – (Entra voz off de Arnaldo) – Mensagem seis horas da manhã é dose...Mais tarde eu leio - ELE COÇA A CABEÇA, BOCEJA, COÇA O SACO, JOGA O CELULAR SOBRE O MESMO MÓVEL E SAI DA SALA. CÂMERA FAZ UM MOVIMENTO DE APROXIMAÇÃO NUM PLANO DE DETALHE DO CELULAR. ARNALDO VOLTA E PEGA O CELULAR PARA LER A MENSAGEM, MAIS POR CURIOSIDADE PRA SABER QUEM MANDOU. PLANO FECHADO NO APARELHO E ACOMPANHANDO TODO O PROCESSO DE ACESSAR O MENU DE MENSAGEM DO CELULAR. CORTA PARA PLANO DO ROSTO DE ARNALDO. CORTA PARA PLANO DA MÃO DELE. CLOSE DO VISOR DO CELULAR, ONDE ELE LÊ (Voz off de Arnaldo mais uma vez) - “DIZ PRA TUA MULHER QUE O CLÁUDIO MORREU PRA VER A REAÇÃO DELA. UM AMIGO”. ARNALDO LÊ AQUILO E SEU CORAÇÃO COMEÇA A BATER MAIS RÁPIDO. ARNALDO ABAIXA A MÃO A CÂMERA ACOMPANHA. CORTA PARA PLANO DE BAIXO PARA CIMA. ARNALDO COMEÇA A DISCAR UM NÚMERO, DEPOIS COLOCA O CELULAR PRÓXIMO DA BOCA. DEMORA, MAS ALGUÉM FINALMENTE ATENDE. ARNALDO FALA AO TELEFONE:

ARNALDO – (Frio e calmo) – Alô! É o Arnaldo...Acordei você? Desculpa Cláudio...Não aconteceu nada, não...Tá tudo bem. Escuta liguei pra saber se você aceita almoçar com a gente mais tarde. Isso, lá pra uma da tarde...Surpresa. O cardápio é surpresa. Então combinado? Uma da tarde aqui em casa. Desculpa mais uma vez. Tchau. Qualquer coisa manda uma “mensagem”...

ARNALDO DESLIGA O CELULAR E O COLOCA DE VOLTA SOBRE O MÓVEL. CAMINHA NA DIREÇÃO DO QUARTO. NESTE MOMENTO É MOSTRADO O PONTO DE VISTA DA CÂMERA (Subjetiva).

CENA 07/QUARTO/INT/NOITE

PORTA ENTRE ABERTA, A CÂMERA MOSTRA RITA DEITADA NA CAMA DORMINDO. ARNALDO ENTRA, OBSERVA UM POUCO SUA MULHER, EM SEGUIDA LIGA O APARELHO DE CD. A MÚSCA “A DESPEDIDA” COMEÇA A TOCAR. ARNALDO NÃO TEM PRESSA E LENTAMENTE FECHA A PORTA. ENQUANTO A IMAGEM SE APAGA, OUVE-SE APENAS AS BATIDAS DO SEU CORAÇÃO, CADA VEZ MAIS FORTE E O SOM DA MÚSICA.

ESCURECIMENTO. CONTINUA MÚSICA DO ROBERTO.

ENTRA CARTELA COM OS DIZERES: NAQUELA TARDE ÀS 14 HORAS NA LOJA DE CELULARES...

CENA 08 – LOJA DE CELULARES/INT/DIA.

LOJA DE CELULAR ONDE ARNALDO TRABALHA. DOIS FUNCIONÁRIOS CONVERSAM ANIMADAMENTE E PLANEJAM PREGAR UMA PEÇA EM ARNALDO.

FUNCIONÁRIO O1 – (Rindo) Será que ele recebeu a mensagem?

FUNCIONÁRIO 02 - Acho que sim.

FUNCIONÁRIO 01 – Espero que não fique zangado com a gente.

FUNCIONÁRIO 02 – Que nada, não existe sujeito mais tranqüilo que o Arnaldo.

FUNCIONÁRIO 01 – Eu não ia gostar nem um pouco de receber uma mensagem dessas!

FUNCIONÁRIO 02 – Ele confia tanto na Rita que ele vai é mostrar pra ela e dar umas risadas e queimar a mufa pra descobrir quem mandou a mensagem.

FUNCIONÁRIO 01 – Se ele não gostar? Pior, se ele descobrir que foi a gente?

FUNCIONÁRIO 02 – Gostar, não vai mesmo, agora descobrir quem foi, isso ele não vai é nunca!

CENA 09 – FRENTE DA LOJA/EXT/DIA

CÂMERA ACOMPANHA OS DOIS SAINDO DA LOJA E CADA UM INDO NUMA DIREÇÃO.

ESCURECIMENTO GRADATIVO DA TELA. MÚSICA DE ROBERTO E ERASMO CARLOS.


FIM


















Nelson Rodrigues o eterno retorno

Quando Nelson Rodrigues faleceu em 1980, aos 68 anos, havia escrito 17 peças, entre as quais, a obra que se tornara em 1943 o marco inicial do Moderno Teatro Brasileiro – Vestido de Noiva e ainda encontrou tempo para escrever os contos diários de “A vida como ela é”, crônicas esportivas, as memórias, romances sob o pseudônimo Suzana Flag e muito mais. Com tudo isso, Nelson acabaria vítima de uma de suas famosas frases em que ele afirmava “toda unanimidade é burra” - isso mesmo, Nelson Rodrigues, mesmo que tardiamente, passaria a ser uma unanimidade nacional.

Nelson Falcão Rodrigues nasceu em Recife em 1912 e com seis anos mudara para o Rio de Janeiro com a família. Seu pai era o jornalista Mário Rodrigues, que viera antes para assegurar um emprego para assim poder sustentar a mulher e a prole. Mário Rodrigues logo se faria notar. Rapidamente adquiriu seu próprio jornal, que recebeu um nome bem apropriado – Crítica – que, seguindo linha editorial sensacionalista, acabaria ocasionando uma tragédia.

Numa manhã de 1929, quando Nelson contava ainda com treze anos de idade, mas já trabalhando como repórter de polícia no jornal do pai, o irmão Roberto foi baleado no estômago em plena redação por uma mulher chamada Sylvia Serafim, que fora ali para exigir satisfações de Mário Rodrigues sobre um artigo publicado e, segundo ela, acabara com seu casamento. Sylvia não encontrando Mário, para não perder a viagem atirou em Roberto, que agonizou três dias e morreu. Alguns meses depois, inconformado com a morte do filho, Mário Rodrigues também morreria e segundo Nelson: “morrera de paixão”. Na verdade, se sentia culpado, pois aquele tiro era para ele. Essas foram apenas duas tragédias entre tantas que ocorreriam na vida de Nelson Rodrigues e iriam influenciar sua obra.

Em 1942, Nelson estréia com a peça A mulher sem pecado, que logo sairia de cartaz. No ano seguinte, aconteceria o que muitos críticos e estudiosos do teatro passaram a chamar de revolução na dramaturgia nacional com a apoteótica estréia de Vestido de Noiva, levada à cena por grupo de amadores denominados Os Comediantes, sob o comando do diretor e ator polonês Ziembinski. A peça, a princípio, deixou os espectadores confusos, pois os acontecimentos se desenrolavam em três planos distintos: o da realidade, da memória e da alucinação. A ousadia do autor foi recebida com elogios fervorosos da crítica da época.

Então Nelson escreveria Álbum de Família. O autor, que fora chamado de gênio, agora passava a ser tratado como um tarado. A peça acabou interditada durante quase quatorze anos. O dramaturgo teria outras de suas obras censuradas, não apenas peças, mas romances como O Casamento (1966) e Asfalto Selvagem (1959/60).

Nos anos 50 surgiria a coluna “A vida como ela é”, contos publicados diariamente no jornal Última Hora, que quarenta anos depois (1996) seriam adaptados para televisão pelo roteirista Euclydes Marinho e direção de Daniel Filho. E não era a primeira vez que a televisão mostrava as histórias de Nelson Rodrigues. Em 1964 a TV Rio levaria ao ar as novelas Sonho de Amor e O Desconhecido, no ano seguinte mais uma novela escrita por Nelson seria exibida também pela TV Rio - A morta sem espelho. A Rede Globo também exibiu uma novela baseada no folhetim O Homem Proibido de 1982, numa fraquíssima adaptação de Teixeira Filho. Dois anos depois Euclydes Marinho adaptaria Meu destino é pecar. Em 1995, seria a vez de Engraçadinha seus amores e seus pecados com roteiro de Leopoldo Serran, também para Rede Globo. Podemos incluir ainda a versão televisa de Vestido de Noiva (1979) adaptada por Domingos Oliveira para a série Aplauso, e A Paixão segundo Nelson Rodrigues (1981) de Antonio Carlos Fontoura que adaptou os contos Um grande amor e Último desejo.

O cinema também beberia da fonte rodriguiana. Filmes como Toda nudez será castigada (1973) de Arnaldo Jabor e Boca de Ouro (1962), dirigido por Nelson Pereira dos Santos, constituem as melhores adaptações cinematográficas baseadas na obra de Nelson Rodrigues. Mas em se tratando de sucesso comercial podemos citar: A Dama do Lotação (1978) e Os Sete Gatinhos (1980), ambos dirigidos por Neville D`Almeida, que apesar de arrastar multidões aos cinemas, tratou de esvaziar o conteúdo das peças em prol de um erotismo barato bem típico do seu cinema. Outras peças e contos do dramaturgo transformados em filme foram: A Falecida (1965), de Leon Hirszman, Beijo no Asfalto (1980), de Bruno Barreto (a mesma peça havia sido levada ao cinema com o título O Beijo em 1966 com direção de Flávio Tambellini). As adaptações mais recentes foram os fracos, Traição (1998), dos estreantes: Arthur Fontes, Cláudio Torres e José Henrique Fonseca (Conspiração Filmes) e Gêmeas (2000) de Andrucha Waddington. Ambos baseados em histórias curtas.

Em 1981, um ano após a morte de Nelson Rodrigues, o diretor teatral Antunes Filho levaria ao palco uma das mais ousadas e bem sucedidas encenações da História do Teatro Brasileiro, a montagem de Nelson Rodrigues – O Eterno Retorno, que reunia quatro peças do dramaturgo (Toda nudez será castigada, Beijo no Asfalto, Os Sete Gatinhos e Álbum de Família) num espetáculo com quase quatro horas de duração. Nelson chegou a assistir alguns ensaios e a pedido de Antunes, gravou a chamada de abertura da peça. Os espectadores eram surpreendidos com a aquela voz rouca que ecoava pelo teatro dizendo – “eu sou um romântico do Meyer”. Melhor impossível.

Em 1993, o ator e diretor cearense Ricardo Guilherme dando continuidade as atividades do Teatro Radical Brasileiro encena Flor de Obsessão (uma das formas como Nelson se autodenominava), que consistia de cinco contos de “A vida como ela é” (Morte pela boca, Para sempre fiel, Unidos na vida e na morte, Missa de sangue e A Esbofeteada), onde Ricardo interpretou todos os personagens, surpreendendo a todos com sua performance.

Outro espetáculo digno de ser mencionado entre os melhores realizados, tendo como base à obra de Nelson Rodrigues, chama-se As Quatro estações das flores, montagem do Grupo Cirandas, que veio de Brasília para participar do Projeto Palcos Giratórios desenvolvido pelo Sesc com a finalidade de trazer para Porto Velho, grupos e espetáculos de outros estados. O Grupo Cirandas, formado por oito moças, pesquisaram a fundo a obra rodriguiana, optando por dar voz às personagens femininas que habitam o universo do dramaturgo, que os mal informados acusam de machista, imoral, reacionário, entre outras bobagens dignas dos “idiotas da objetividade”.

As Quatro estações das flores é uma colagem que desenvolve o encontro de personagens como a prostituta Geni, de Toda nudez será castigada, a colegial Cilene de Os Sete Gatinhos, a ingênua Ritinha de Bonitinha, mas ordinária, a oprimida Lídia de A mulher sem pecado, a preconceituosa Virgínia, mulher que assassina os filhos em Anjo Negro, Zulmira, “a morta que pode ser despida” de A Falecida, a invejosa Dona Flávia de Dorotéia e ainda Celeste, a ganhadora do concurso de seios em Boca de Ouro e Tia Ruth, que foi possuída pelo cunhado bêbado, que agradecida passa a lhe arranjar jovens de 15 anos para que ele as deflore, em Álbum de Família.

O citado grupo também usou de forma engenhosa e coerente algumas frases de Nelson Rodrigues como: “toda mulher gosta de apanhar”, “a mulher fria é a única que não pode ser infiel”, “o sexo nunca fez um santo, o sexo só faz canalhas”, entre outras que foram extraídas do livro Flor de ObsessãoAs 1000 melhores frases de Nelson Rodrigues, editado pela Companhia das Letras e organizado pelo escritor Ruy Castro.

O Grupo Cirandas obteve calorosa aceitação do público presente na quadra do Sesc Esplanada em Porto Velho, sábado, dia quatro de junho e por sua originalidade As Quatro estações das flores é desde já um espetáculo que garante a Nelson Rodrigues, o seu eterno retorno.
O último filho de Kripton está de volta!

Superman, o retorno de Bryan Singer, está disponível em dvd duplo vendido indivualmente ou ainda na embalagem especial com os quatro longas metragens protagonizados por Christopher Reeve . A coleção traz Superman, o filme (dvd tripo); Superman 2 - a aventura continua (dvd duplo), Superman 3; Superman 4 - Em busca da paz (um fiasco, assim como o terceiro filme) e ainda o mais novo, Superman, o retorno (dvd duplo).
os dois primeiros trazem ótimas extras como making of original, os desenhos animados produzidos pelos irmãos Fletcher, entrevistas, documentários e muito mais. Quanto ao terceiro, traz um making off e o quarto filme traz apenas uma cena deletada e trailler, mais nada.
Como este texto não é uma crítica ou um comentário, mas sim uma crônica sobre o filme de Bryan Singer e a emoção de ver mais uma vez o Superman realizando o que de melhor sabe fazer, ou seja, abrir a camisa e sair voando para salvar alguém em perigo, ou mesmo apenas por uma razão – Lois Lane – o filme valeu os R$ 12, 00 que a maioria que ali esteve na estréia pagou pelo ingresso.

Superman, o retorno é um filme de referências. E não existe nada mais agradável para cinéfilos que filmes recheados de citações. Logo nos créditos de abertura do filme – a música de John Williams – a mesma do filme de 1978 – é usada por Singer que tem sucesso em seu intento,ou seja, nos remeter ao clima do filme original (sacada de mestre) e isso sem falar nos letreiros que são da mesma cor e quase iguais aos do longa-metragem de 1978. Isso é apenas o começo.

Nas seqüências seguintes, habilmente o diretor brinda o espectador com cenas e diálogos quase idênticos ao supracitado filme estrelado por Christopher Reeve. Quando Kar-el, o nome verdadeiro do Superman, que depois de cinco anos viajando pelo espaço em busca do que restou de Krypton, seu planeta natal, retorna para Smallville para uma visita rápida a sua mãe adotiva, Marta Kent (Eve Marie- Saint). Numa cena em que os dois conversam na sala, o que vemos sobre um móvel (ou seria uma lareira?) a foto do ator Glenn Ford, que em 1978 interpretou Jonathan Kent.

Na primeira vez que Lex Luthor (Kevin Spacey) aparece em cena o vemos em silhueta, usando peruca e graças a um efeito de luz e sombra, a silhueta de Lex nos lembra a de Gene Hackman, que como todos sabem interpretou Luthor no filme de Richard Donner. De arrepiar. Tem mais – a mulher de cabelos grisalhos em seu leito de morte que Lex ampara e herda todo seu dinheiro, é ninguém menos que a atriz Noel Neill, que atuou como Lois Lane na série dos anos 40 para cinema e no seriado para TV nos anos 50, (substituindo Phyllis Coates). Outra participação especial é a do ator Jack Larson como um garçom servindo drinks a Jimmy Olsen (desta vez interpretado por Sam Huntington) e Clark Kent. Jack Larson viveu Olsen no seriado para TV dos anos cinqüenta junto com George Reeves, John Hamilton e Noel Neill.

As encarnações que mais duraram de Jimmy Olsen e Lois Lane, o amigo e a namorada do Superman, Larson 74, e Neill, 85, inevitavelmente são arrastados com buxixos e perguntas a cada nova versão do Homem de Aço. Noel Neill fez rápida aparição em Superman, o filme na cena em que uma garota que viaja em um trem com os pais, flagra o jovem Clark Kent correndo mais rápido que o trem. A garota, que os pais chamam de Lois quer a atenção dos pais, vividos por Neill e ninguém menos que Kirk Alyn (o primeiro Superman). Neill também dublou Lois Lane em desenhos; fez participações em versões para a televisão como Lois & Clark: As Novas Aventuras do Superman (como a mãe de Lois vivida por Teri Hatcher), nos anos 1990 e mais recentemente Smallville. Bryan Singer convidou Larson e Neill pessoalmente para os papéis antes de começarem a rodar Superman – O Retorno em 2005 na Austrália

Singer presta outra grande homenagem quando usa imagens de Marlon Brando que interpretou Jor-El, pai biológico do Superman, no filme de 1978. Graças a efeitos digitais, mais uma vez o público ouvirá e verá Jor-El aconselhar seu filho. E devo mencionar também que a maior homenagem de todas é o próprio ator escolhido para interpretar Superman e seu alter-ego Clark Kent – Brandon Houth, que realmente parece muito com o eterno Superman – o inesquecível Christopher Reeve, que em 1978, nos fez acreditar que o homem realmente poderia voar.

No entanto, infelizmente, um filme não se sustenta apenas com referências. Precisa de uma boa história,um roteiro bem desenvolvido e apesar de tantos milhões gastos em incríveis efeitos especiais, a trama é o maior defeito de Superman, o retorno não cabe a mim falar sobre esse aspecto, pelo menos não neste momento. Mas a magia está lá: na primeira e espetacular aparição do Homem de Aço; os vôos, os salvamentos, as poucas e bem feitas cenas de ação, isso sem falar que o filme é bastante emocional para um filme baseado em um personagem de história em quadrinhos.

Superman, o retorno é pura diversão. Seja para o garoto de oito anos ou para o vovô com oitenta. Como havia dito mais acima, o filme vale o ingresso, a ,locação ou a aquisição.

HumbertOliveira



















Nelson para sempre Rodrigues

Se estivesse vivo nesta quarta-feira, 23 de agosto de 2006, o dramaturgo Nelson Rodrigues estaria completando 104 anos. O polêmico autor de VESTIDO DE NOIVA falecido em 1980 aos 68 anos, dos quais 45, dedicados ao jornalismo, à crônica esportiva e policial, ao romance e contos, correio sentimental, livros de memórias e 17 peças,todas encenadas, muitas adaptadas para o cinema entre as décadas de 50 a 80.

O filão Nelson Rodrigues era irresistível e renderia poucas produções dignas de nota, não apenas para o cinema como também para televisão – TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA dirigido por Arnaldo Jabor ou ainda os contos de A VIDA COMO ELA É produzidos e dirigidos por Daniel Filho e exibidos pela Rede Globo; MEU DESTINO É PECAR, ENGRAÇADINHA, SEUS AMORES E SEUS PECADOS, recentemente lançada em dvd, tanto a minissérie como o longa-metragem – sendo o primeiro protagonizado por Alessandra Negrini (Engraçadinha jovem) e Cláudia Raia, no segundo, por Lucélia Santos vinda do sucesso de outra adaptação de uma obra rodriguiana, desta feita BONITINHA,MAS ORDINÁRIA, tendo também no elenco Vera Fischer, José Wilker, Milton Morais entre outros.

Claro que oportunistas como Neville de Almeida, pseudo-cineasta não poderia ficar de fora da manada de vampiros à espreita, prontos para ganhar rios de dinheiro com o “tarado de plantão” ou “o destruidor da moral e da família brasileira”,pois é. Neville, cuja pretensão o faz assinar “D’ALMEIDA”, realmente está no topo da lista dos aproveitadores, bastando aos leitores assistirem DAMA DO LOTAÇÃO e OS SETE GATINHOS para entenderem o que quero dizer,ou seja, lixo puro e o pior que o Nelson adorou ambos os resultados, afinal de contas, ele jogava nas onze, precisava matar um leão por dia para pagar as contas, mesmo sendo o aclamado Nelson Rodrigues.

E voltando no tempo.Mais precisamente em dezembro de 1943 quando estreou VESTIDO DE NOIVA, a segunda peça escrita por Nelson (a primeira foi MULHER SEM PECADO) trazia o teatro brasileiro à modernidade contando no palco uma história com características expressionistas e psicologicamente profunda passada em três planos distintos – realidade, alucinação e memória – causando alvoroço no público, muitos acharam genial, outros porém, se sentiram ofendidos pela ousadia, no entanto, engoliram o orgulho e por medo que fossem taxados de burros,preferiram aplaudir.

A vida inteira, Nelson Rodrigues esteve na corda bamba, tragédias pessoais – um irmão assassinado; outro morto pela tuberculose, outro que morreria com a família num desabamento, sua filha nasceu cega e com problemas mentais, outro filho preso pela ditadura militar, isso sem falar na úlcera que o atormentava e paixões arrebatadoras praticamente transformaram sua obra no que ela é. Com tudo isso sua obra não poderia ser diferente. Por suas opiniões e convicções políticas foi taxado de reacionário, colecionou desafetos na direita, na esquerda, no centro. Nelson herdou isso de seu pai, o jornalista Mário Rodrigues, que serviria de modelo para outro Rodrigues – Mário Filho, Flamengo doente (Nelson torcia pelo Fluminense), cujo nome batizaria o Estádio do Maracanã.

Há vinte e seis anos morria Nelson Rodrigues, que segundo ele mesmo foi um autor que nunca teve medo de se repetir. Uns podem chamá-lo de gênio, sem medo de errar, outros não enxergam o óbvio ululante, pois figuram entre os idiotas da objetividade. Nelson Rodrigues como ótimo frasista declarou certa feita como seria o seu epitáfio – “Aqui jaz Nelson Rodrigues, assassinado covardemente por imbecis de ambos os sexos”. Imortalizou-se sem pedir licença.

Nelson, feliz aniversário.
Humberto Oliveira