03 janeiro, 2007


Nelson para sempre Rodrigues

Se estivesse vivo nesta quarta-feira, 23 de agosto de 2006, o dramaturgo Nelson Rodrigues estaria completando 104 anos. O polêmico autor de VESTIDO DE NOIVA falecido em 1980 aos 68 anos, dos quais 45, dedicados ao jornalismo, à crônica esportiva e policial, ao romance e contos, correio sentimental, livros de memórias e 17 peças,todas encenadas, muitas adaptadas para o cinema entre as décadas de 50 a 80.

O filão Nelson Rodrigues era irresistível e renderia poucas produções dignas de nota, não apenas para o cinema como também para televisão – TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA dirigido por Arnaldo Jabor ou ainda os contos de A VIDA COMO ELA É produzidos e dirigidos por Daniel Filho e exibidos pela Rede Globo; MEU DESTINO É PECAR, ENGRAÇADINHA, SEUS AMORES E SEUS PECADOS, recentemente lançada em dvd, tanto a minissérie como o longa-metragem – sendo o primeiro protagonizado por Alessandra Negrini (Engraçadinha jovem) e Cláudia Raia, no segundo, por Lucélia Santos vinda do sucesso de outra adaptação de uma obra rodriguiana, desta feita BONITINHA,MAS ORDINÁRIA, tendo também no elenco Vera Fischer, José Wilker, Milton Morais entre outros.

Claro que oportunistas como Neville de Almeida, pseudo-cineasta não poderia ficar de fora da manada de vampiros à espreita, prontos para ganhar rios de dinheiro com o “tarado de plantão” ou “o destruidor da moral e da família brasileira”,pois é. Neville, cuja pretensão o faz assinar “D’ALMEIDA”, realmente está no topo da lista dos aproveitadores, bastando aos leitores assistirem DAMA DO LOTAÇÃO e OS SETE GATINHOS para entenderem o que quero dizer,ou seja, lixo puro e o pior que o Nelson adorou ambos os resultados, afinal de contas, ele jogava nas onze, precisava matar um leão por dia para pagar as contas, mesmo sendo o aclamado Nelson Rodrigues.

E voltando no tempo.Mais precisamente em dezembro de 1943 quando estreou VESTIDO DE NOIVA, a segunda peça escrita por Nelson (a primeira foi MULHER SEM PECADO) trazia o teatro brasileiro à modernidade contando no palco uma história com características expressionistas e psicologicamente profunda passada em três planos distintos – realidade, alucinação e memória – causando alvoroço no público, muitos acharam genial, outros porém, se sentiram ofendidos pela ousadia, no entanto, engoliram o orgulho e por medo que fossem taxados de burros,preferiram aplaudir.

A vida inteira, Nelson Rodrigues esteve na corda bamba, tragédias pessoais – um irmão assassinado; outro morto pela tuberculose, outro que morreria com a família num desabamento, sua filha nasceu cega e com problemas mentais, outro filho preso pela ditadura militar, isso sem falar na úlcera que o atormentava e paixões arrebatadoras praticamente transformaram sua obra no que ela é. Com tudo isso sua obra não poderia ser diferente. Por suas opiniões e convicções políticas foi taxado de reacionário, colecionou desafetos na direita, na esquerda, no centro. Nelson herdou isso de seu pai, o jornalista Mário Rodrigues, que serviria de modelo para outro Rodrigues – Mário Filho, Flamengo doente (Nelson torcia pelo Fluminense), cujo nome batizaria o Estádio do Maracanã.

Há vinte e seis anos morria Nelson Rodrigues, que segundo ele mesmo foi um autor que nunca teve medo de se repetir. Uns podem chamá-lo de gênio, sem medo de errar, outros não enxergam o óbvio ululante, pois figuram entre os idiotas da objetividade. Nelson Rodrigues como ótimo frasista declarou certa feita como seria o seu epitáfio – “Aqui jaz Nelson Rodrigues, assassinado covardemente por imbecis de ambos os sexos”. Imortalizou-se sem pedir licença.

Nelson, feliz aniversário.
Humberto Oliveira

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