14 agosto, 2007

QUILOMBAGEM É O NOVO TRABALHO DE JURANDIR COSTA



Jurandir Costa e Fernanda Kopanakis, diretores do documentário Quilombagem - Foto Humberto Oliveira

O documentário “Quilombagem”, vencedor do III DOC TV Rondônia, dirigido por Jurandir Costa e co-dirigido por Fernanda Kopanakis, foi exibido na última sexta-feira, 10, no auditório da UNIR Centro. O filme, uma co-produção de Jurandir Costa, CL Vídeo Produções, Fundação Cultural Iaripuna e Fundação Padre Anchieta - TV Cultura, aborda o drama e a resistência de duas comunidades Quilombolas - Santo Antônio do Guaporé e Pedras Negras, situadas na fronteira do Brasil com a Bolívia, em plena floresta amazônica.

Em entrevista para o blog Almanaque, Jurandir declarou que “Quilombagem” estava em gestação desde 2002 e que o motivou a realizar o documentário foi tomar conhecendo das dificuldades vividas pelas pessoas das duas comunidades que vivem praticamente isoladas. “Para se ter uma idéia deste isolamento, um barco do governo aparece uma vez por mês e isso mostra o quanto os moradores sofrem com a falta de transporte, não têm acesso a serviços de saúde, educação. Famílias inteiras foram expulsas passando a residir em cidades adjacentes, isso sem esquecer do conflito entre as comunidades e o Ibama com a criação de uma reserva biológica no território, mas o que impressiona é que mesmo com tantas dificuldades eles resistem”, afirma Jurandir.



Jurandir Costa e o jornalista Humberto Oliveira - Foto Marcos Souza



Jurandir Costa e Fernanda Kopanakis durante entrevista a equipe de reportagem da TV Allamanda (SBT)- Foto - Humberto Oliveira

A Comunidade de Santo Antônio do Guaporé está situada numa área que atualmente é reserva biológica sendo que antes do governo criar esta reserva, eles já estavam lá. Quanto a comunidade de Pedras Negras, que também está numa reserva biológica criada pelo governo federal, tem uma estrutura melhor e bem diferente, pois eles exploram um castanhal. Somente agora as pessoas que ali moram se deram conta eles são donos e isso é mostrado no filme.

Antes o castanhal passava de mão em mão sendo os moradores praticamente escravos daqueles que se diziam donos do castanhal. Agora eles são os verdadeiros donos e passaram a ter relação com esta parte do comércio, administrando e assim tendo autonomia. “No filme mostramos o conflito das duas comunidades com o Ibama assim como a relação com os bolivianos numa integração interessante, pois eles se ajudam mesmo na pobreza. Existe esta solidariedade entre eles”.

Jurandir falou também como foram as filmagens que aconteceram em janeiro. “Na verdade deveríamos ter começado em agosto, época livre de chuvas, no entanto, uma série de problemas nos fez adiar várias vezes e quando percebemos era janeiro”, o diretor diz ainda que “o Doc TV é assim: Você recebe o recurso e cinco meses depois tem de entregar o trabalho. Então o filme passa a ser patrimônio da TV Cultura”, Jurandir diz ainda que “como diretor tenho uma pequena porcentagem assim como a Fundação Iaripuna”.

“As filmagens duraram quinze dias e nossa equipe era pequena, pois não faria sentido utilizarmos uma equipe maior para realizarmos um trabalho como este onde quanto menos pessoas envolvidas melhor”. Jurandir garante que com uma equipe reduzida possibilitou maior liberdade mesmo porque “havíamos feito contato e quando voltamos, eles estavam mais familiarizados conosco, porém as pessoas dessas comunidades são muito fechadas e desconfiadas”.

Jurandir ressaltou que a parceria com sua mulher, Fernanda Kopanakis como co-diretora do documentário foi ótima por ela não ter um olhar viciado de chegar à locação e dizer “enquadra aqui ou posiciona a câmera ali”. “Fernanda chegou instintivamente, trouxe sensibilidade e um olhar mais humano, inclusive o primeiro plano do filme foi uma idéia dela”.

O documentário tem momentos fortes e bonitos. Mas Fernanda Kopanakis destaca não a cena mais bonita, mas a mais difícil de realizar. No momento de gravar como o morador mais antigo, nada parecia contribuir para a realização da cena, mas o personagem acabou por conduzir o trabalho.

O trabalho de finalização foi realizado pelo Gilmar santos. A fotografia sofreu alterações durante o processo de montagem intencionalmente para fugir um pouco da estética habitual do gênero. “Filmamos com uma câmera HDV e durante a montagem optamos por sujar um pouco a imagem para que a mesma se aproximasse do aspecto de película”.

“A idéia do DOC TV é fugir da estrutura do documentário tradicional, da narração em off e do formalismo, por exemplo, de um Globo Repórter. O filme será exibido dia 9 de setembro na TV Cultura, São Paulo e em cadeia nacional para todas as TVs Educativas do Brasil”. “É um momento importante para a divulgação da cultura de Rondônia”.

“Estamos fazendo a legendagem do filme para o inglês e espanhol, para tentar encaixar o documentário em vários festivais no Brasil e também no exterior. O filme faz parte da carteira DOC TV da TV Cultura, que certamente também interesse em vender o filme para fora do Brasil e isso acontecendo o documentário vai acabar sendo porta voz das comunidades e das dificuldades elas enfrentam mostradas no filme”.





Jurandir Costa e Fernanda Kopanakis no auditório da UNIR Centro minutos antes da exibição do documentário - FOTO - Humberto Oliveira

O DOCTV, financiador do documentário “Quilombagem” é um Programa da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, Fundação Padre Anchieta / TV Cultura e Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais - ABEPEC, com apoio da Associação Brasileira de Documentaristas - ABD, que tem como objetivos gerais a regionalização da produção de documentários, a articulação de um circuito nacional de tele-difusão e a viabilização de mercados para o documentário brasileiro.

Dia 9 de setembro “Quilombagem” será exibido para todo o país pela TV Cultura de São Paulo em cadeia com todas as televisões educativas brasileiras.

O FILME

Herdeiro indireto do Neo-realismo italiano de Vittorio De Sica, Roberto Rosselini, do realismo contundente dos primeiros filme de Nelson Pereira do Santos e próximo do estilo Eduardo Coutinho de captar a realidade, o novo trabalho de Jurandir Costa, “Quilombagem”, é um documentário que vai de encontro as tendências dos cineastas citados acima, mesmo que Jurandir tenha no cineasta moçambicano Ruy Guerra, seu orientador neste trabalho que, prova sua maturidade atrás da câmera, abordando através de sua lente mais que o isolamento de duas comunidades encravadas na fronteira do Brasil com a Bolívia, dando rosto e voz as pessoas que ali sobrevivem e resistem apesar das adversidades e da total omissão governamental.

O documentário “Quilombagem” tem 52 minutos de duração. Poderia ter dez minutos ou meia hora que mesmo assim o impacto ainda seria o mesmo. Desde a primeira cena, um plano geral mostrando uma pequena embarcação cortando um rio até a última imagem quando a câmera recua num movimento de trevilling por uma estrada de terra deixando para trás pessoas e histórias, então o espectador conclui o óbvio – conclui estarrecido que acabou de assistir a mais que um filme, uma revisão histórica através dos dramas diários das comunidades focadas.

O texto do poeta Carlos Moreira complementa o que não é dito pelas pessoas das comunidades de Santo Antônio do Guaporé e Pedras Negras. A câmera sob o comando de Auristênio “Filhão” Rodrigues, capta com sensibilidade gestos e olhares que dizem mais que palavras. A trilha sonora composta pelo renomado Naná Vasconcelos embala as cenas e depoimentos como se fizesse parte diária naquela realidade captada. E não podemos deixar de destacar a direção inspirada de Jurandir Costa e Fernanda Kopanakis e a edição de Gilmar dos Santos.







O público lotou o Auditório da UNIR Centro na última sexta-feira,10 de agosto, para prestigiar e assistir o novo trabalho de Jurandir Costa, o documentário Quilombagem, co-drigido por Fernanda Kopanakis - Fotos Humberto Oliveira

Humberto Oliveira

ASSISTA ENTREVISTA COM FERNANDA KOPANAKIS

Um comentário:

jurandircosta disse...

HUMBERTO MUITO OBRIGADO PELA GRANDE FORÇA, SEMPRE. DESSA FORMA, TOCANDO AS PESSOAS, O FILME ESTÁ CUMPRINDO O SEU PAPEL...

ABRAÇOS JURANDIR COSTA