19 março, 2007


Setenta anos sem Noel Rosa, o Poeta da Vila

No dia 4 de maio deste ano, os apreciadores da legitima música popular brasileira relembram o falecimento de um dos mais expressivos e geniais compositores. Há setenta anos morria Noel de Medeiros Rosa, Noel Rosa, o Poeta da Vila, que deixou mais de duzentas composições, algumas entre elas se tornaram clássicos da nossa música como Último desejo, Três apitos, Conversa de Botequim, Feitio de Oração, Palpite Infeliz, Não tem tradução, Feitiço da Vila, Filosofia e tantas outras que se fossem relacionadas aqui, certamente tomariam inúmeras e merecidas páginas.

Tudo começou naquele chalé modesto da Rua Teodoro da Silva, onde Noel nasceu em 11 de dezembro de 1910, de parto a Fórceps, que provocou afundamento e fratura no maxilar, causando no queixo o defeito que o acompanharia por toda a vida. O pai era Manuel Garcia de Medeiros Rosa, que lhe ensinaria os primeiros acordes no violão. A mãe, a professora Martha de Medeiros Rosa, mantinha uma escola na própria casa da família.

A vida de Noel Rosa foi curta, apenas oito anos, mas a carreira foi uma das mais produtivas da história do nosso cancioneiro e o bastante para influenciar a cultura brasileira. A vida de Noel passou rápida, musical e bonita, terminando como começou, no chalé de madeira onde nasceu, na Vila Isabel.

Muito foi dito e escrito sobre a obra e a vida de Noel Rosa, que morreu jovem, com apenas 26 anos e cinco meses vividos com muita intensidade e paixão. Mas tudo que se disse dele ou de seus sambas, marchas carnavalescas, paródias, ainda é pouco quando conhecemos a extensão de sua obra como compositor, que influenciou artistas como Chico Buarque e Paulinho da Viola.

A música de Noel Rosa teve inúmeros interpretes como Francisco Alves, Mário Reis, Silvio Caldas, Orlando Silva, Moreira da Silva,mas foram duas cantoras que realmente souberam traduzir Noel com suas interpretações: Aracy de Almeida e Marília Batista, cada uma ao seu modo se tornariam herdeiras que imortalizariam muitos de seus sambas.

É impossível, que numa antologia sobre Música Popular Brasileira, uma ou duas músicas de Noel Rosa não estejam ali incorporadas no repertório. Interpretes como Nelson Gonçalves, Mário Reis, Aracy de Almeida, e Maria Bethânia gravaram discos inteiros dedicados a composições do Poeta da Vila. Isso não é para qualquer um, muito menos para um artista morto há setenta anos e que surgiu numa época que não havia televisão e nem mesmo a Revista do Rádio que anos mais tarde,assim como a televisão, revelaria não apenas a voz do artista,mas também seu rosto para o público.

Noel faz parte do seleto clube que reúne monstros sagrados, mas esquecidos da nossa música. Ary Barroso dominou o cenário musical brasileiro por nada menos que seis décadas,inclusive abençoando a Bossa Nova, como atesta o registro fotográfico que flagrou Ary com Tom Jobim, Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli, três dos pilares do movimento que teve início a partir de 1957 e logo ganhou o mundo.

Apenas mais dois compositores podem ser citados como integrantes deste seleto grupo de artistas que se tornaram unanimidades – João de Barro, o Braguinha que faleceu este ano quando completaria oitenta anos de atividades como compositor, e claro, Dorival Caymmi com quase sessenta anos de carreira.
Humberto Oliveira
foto - Capa do songbook de Noel Rosa lançado nos anos 90 reunindo grandes nomes da MPB como Tom Jobim, Chico Buarque, João Nogueira, Gal Costa, Carlos Lyra, Luiz Melodia, Maria Bethânia, Nelson Gonçalves entre outros.

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