16 janeiro, 2007


Trilogias do Cinema e afins – Terceira parte

Pistoleiros e gângsters contam a América

Assim como George Lucas e Steven Spielberg, o diretor italiano Sérgio Leone presenteou o público com duas trilogias – a primeira composta pelos filmes Por um punhado de dólares (1964); Por uns dólares a mais (1965) e Três homens em conflito (1966); e a segunda – Era uma vez no Oeste (1968), Quando explode a vingança (1972) e Era uma vez na América (1984).

Por um punhado de dólares realizado em 1964 apresenta Clint Eastwood com o um pistoleiro misterioso recém chegado em San Miguel, uma cidade muito rude, onde dois grupos rivais de contrabandistas aterrorizavam os cidadãos pobres. Rápido no gatilho, o estranho recebe ofertas de emprego das duas gangues. Porém sua lealdade não pode ser comprada, mas ele aceita os dois empregos desmascarando os criminosos com um inteligente jogo de confrontações mortais.

Com uma quantidade incrível de tiros, interpretações dinâmicas e uma atmosfera cinematográfica jamais vista em um filme deste gênero, este é o filme preferido do mestre Sergio Leone que escalou ainda Gian Maria Volonté para completar o elenco. Por um punhado de dólares pode ser visto como uma refilmagem de Yojimbo, o guarda-costas, dirigido por Akira Kurosawa em 1961.

Leone foi o maior e mais expressivo cineasta do chamado “faroeste espaguete” e com o sucesso de Por um punhado de dólares, logo no ano seguinte realizaria a continuação, intitulada Por uns dólares a mais (1965) que traria mais uma vez como protagonista o ator Clint Eastwood, que a partir de então se tornaria um astro.

"O Estranho Sem Nome" - em seu segundo trabalho na famosa trilogia de Sergio Leone. Com roteiro de Luciano Vicenzoni, Por uns dólares a mais é um clássico moderno - um dos maiores westerns de todos os tempos, segundo alguns críticos mais afoitos. Eastwood é um caçador astuto e de olhar aguçado seguindo a trilha sangrenta de Índio, o bandido mais traiçoeiro do território. Mas seu rival, o Coronel Mortimer (Lee Van Cleef), está determinado a apanhar Índio primeiro - vivo ou morto - Sem conseguir agarrar sua presa - ou eliminar um ao outro - os dois têm apenas uma opção: aliarem-se ou enfrentarem a morte certa nas mãos de Índio e seu bando de assassinos. No elenco destaque para Lee Van Cleef, Gian Maria Volonté e Klaus Kinski.

Em 1966, Leone encerra de forma brilhante esta sua primeira trilogia com Três homens em conflito, que sem sombra de dúvida, é o mais ambicioso dos três filmes, impecável esteticamente e cujo estilo influenciou todos os filmes do gênero já filmados, Três Homens em Conflito é ação que mistura o mito e o realismo.

Clint Eastwood está de volta como o invencível "Estranho Sem Nome", desta vez ao lado de dois pistoleiros (Lee Van Cleef e Eli Wallach) à procura de uma fortuna em ouro roubado. Mas trabalho de equipe não é coisa fácil para indivíduos fora-da-lei com personalidades tão fortes, e eles logo descobrem que seu maior desafio é manter a concentração - e a vida - em um país arrasado pela guerra. Desenvolvendo um estilo de ação inédito, mas nunca igualado desde então.

O estilo de Leone influenciaria inúmeros cineastas, entre eles, Quentin Tarantino que o homenageia repetindo “seus grandes closes e longos períodos de silêncios” em Kill Bill Volume 2, isso sem esquecer de mencionar o uso da câmera em ângulos inusitados, a violência que explode de repente na tela e também os poucos mas precisos diálogos. Para Leone as imagens falam por si.

Sérgio Leone começou sua carreira com o assistente de estúdio, passando então por todos os estágios como cenógrafo, assistente de edição, editor, e quando o diretor de um filme de baixo orçamento que estava sendo produzido, Leone que era o assistente de direção, acabou escalado para assumir como diretor e terminar o filme. E o resto é história.

Encerrada a trilogia protagonizada por Clint, o cineasta italiano dá início a sua segunda trilogia com Era uma vez no Oeste (1968). Leone sonhava dirigir um dos maiores mitos de Hollywood – Henry Fonda – que na maioria de seus filmes atuou como personagens sempre ao lado da lei – aqui ele aparece barbado, e para espanto da platéia, como um terrível pistoleiro que logo na primeira cena dizima uma família sem poupar ao menos uma criança em quem atira friamente.

Cláudia Cardinale é a mulher que pretendia se unir a essa família de fazendeiros. Mas agora ela está só naquela casa e existe um poderoso construtor da estrada de ferro interessado em arregimentar a propriedade, nem que seja à bala. Sai o Homem sem nome de Eastwood e entra em cena Harmônica vivido de forma mais lacônica ainda por Charles Bronson que é o pistoleiro silencioso que auxilia a mulher.

Na seqüência inicial quando três pistoleiros esperam na estação de trem, Leone convidou Eastwood, Van Cleef e Eli Wallach, no entanto não aceitaram pois os personagens morrem logo em seguida num tiroteio com Harmônica. Era Uma Vez No Oeste tem a mais longa seqüência de créditos da história do cinema: 14 minutos.
Duas curiosidades: o diretor americano John Landis, de Os Irmãos Cara de Pau e Um Lobisomem Americano em Londres, foi um dos dublês do filme. E na década de oitenta, o diretor Robert Zemeckis prestou homenagem a Era Uma Vez No Oeste no filme De Volta Para O Futuro III, recriando a famosa cena panorâmica da estação de Flagstone para revelar a nascente cidade de Hill Valley.

O segundo filme, Quando explode a vingança (1972) é uma agitada história sobre poder e política dirigida e co-escrita (pois nela também trabalharam Luciano Vincenzoni e Sergio Donati) por Sergio Leone, o celebrado diretor de Três Homens em Conflito e de Era uma Vez na América. No elenco, o vendedor do Oscar Rod Steiger (No calor da noite) e James Coburn (Sete Homens e um Destino) juntos preparam uma ousada operação de fuga para libertar prisioneiros políticos, defender seus compatriotas contra a milícia bem equipada de um sádico oficial e arriscam suas vidas em um trem carregado com explosivos. Com uma magnífica filmagem realizada nos desertos da Espanha, este filme marcante também conta com uma trilha sonora brilhante e especial assinada por Ennio Morricone.

Leone fecha sua segunda trilogia com o melhor filme de gângster, (depois de O Poderoso Chefão de Coppola) sem sombra de dúvida a sua obra prima - Era uma vez na América (1984) produção que levou mais de dez anos para ficar pronta e que seria o último trabalho de Leone, que morreria logo em seguida.

Tendo como protagonistas Roberto De Niro e James Woods e ainda coadjuvantes de primeira linha como Elizabeth McGovern, Treat Williams, Tuesday Weld, Burt Young, Joe Pesci, Danny Aiello e William Forsythe. Era uma vez na América conta cinco décadas de crimes e das vidas das pessoas por trás deles. Um épico policial dramático e grandioso, com um elenco à sua altura. Mais que uma história da América, um fragmento importante da própria história americana. O filme traça um perfil histórico da América tendo como pano de fundo a máfia judia no país nos anos 20 indo até os anos 80. Um épico maravilhoso, com interpretações inesquecíveis, ótima reconstituição de época e trilha sonora inspirada de Ennio Morricone, habitual colaborador de Leone.

De como o demônio salvou um diretor

Mas não é somente de clássicos ou obras primas que as trilogias vivem. Existem também os cultuados filmes de terror trash realizados pelo hoje consagrado diretor da versão para cinema do Homem Aranha (que também caminha para se tornar uma trilogia). Falamos de Sam Raimi e dos seus filmes de início de carreira - A morte do demônio – Evil dead – (1983)

A trama gira em torno de um grupo de cinco jovens amigos que vai para uma cabana na floresta, onde descobrem uma indescritível e mortal criatura. Ao descobrirem o Necronomicon - O Livro dos Mortos e ao ouvirem uma gravação que exalta os poderes do demônio, sem querer libertam o horror em sua mais pura expressão. Um a um, eles enfrentam o poder do mal e se transformam em mortais e horríveis zumbis. E, quando resta apenas um deles, não há alternativa senão lutar pela sobrevivência durante a noite mais alucinante de toda sua existência. O sobrevivente é Bruce Campbell,amigo do diretor e que seria protagonistas das duas seqüências - Uma noite alucinante – Evil Dead 2 – (1987) que praticamente recicla a mesma história do primeiro filme, sendo que desta vez Sam Raimi tinha mais dinheiro para gastar com efeitos especiais e muito sangue.

Uma Noite Alucinante é a arrepiante história de um grupo de jovens que resolvem se hospedar numa cabana na floresta, onde descobrem uma fita com gravações de trechos do Livro dos Mortos. A evocação traz da floresta forças do mal que os transformam em monstros, para o desespero de Ash, o único que consegue resistir. À noite, munido apenas de uma serra elétrica e uma espingarda, Ash precisa combater uma horda de demônios e seres assustadores. E a trilogia se encerra em 1993 com Evil Dead 3 – a vingança de Ash.

O filme começa exatamente onde o último terminou. Ash é transportado para a Idade Média e é capturado pelos cavaleiros da região e é condenado à morte. A Idade Média mostrada no filme sofre ataques de demônios e mortos-vivos. Ash terá que enfrentar o Mal que o acompanha desde o primeiro filme da trilogia.

Esse filme foi inspirado graças a uma tarefa de faculdade, a qual Raimi teve que pesquisar o Livro dos Mortos. O primeiro filme fez com que Bruce Campbell se tornasse famoso no papel de Ash, apesar do filme não ter feito muito sucesso nos cinemas. Em 1986, com um orçamento bem maior, Sam Raimi decidiu fazer uma seqüência. Eles mantiveram Bruce Campbell e contrataram novos atores. Com o orçamento maior, eles puderam utilizar efeitos especiais mais sofisticados e também acrescentar mais fantasia. Sam Raimi, por ser um grande admirador dos três patetas, decidiu colocar menos horror e acrescentar ao filme algumas doses de humor estilo pastelão, fazendo deste um entretenimento ainda maior. Há uma cena em que Campbell corta a sua mão possuída pelo demônio e coloca no lugar uma serra elétrica. Assim, o personagem acaba se transformando em uma espécie de herói, caçador de demônios.

Seis anos depois, Raimi iniciou as filmagens do terceiro filme. Seguindo a fórmula, o filme começa exatamente onde parou o anterior, quando Ash foi sugado por um vórtice, criado pelo demônio, para a época medieval. Evil Dead 3 está longe de ser um filme de horror. Pode ser definido como um filme de comédia e aventura, que satiriza os outros dois filmes. Entretanto, o filme não decepcionou os fãs, que ainda aguardam uma tão sonhada continuação.

Claro que Sam Raimi cresceu muito como cineasta passando a explorar temas variados como suspense em Um plano simples com Bill Paxton e Billy Bob Thorton; O dom da premonição com Cate Blanchet; o sensacional Darkman – Vingança sem rosto com Liam Nielsen e isso sem falar no seu brilhante trabalho na adaptação do Homem Aranha para o cinema que em breve ganha sua terceira aventura na tela grande.

Nada se cria, tudo se transforma em cinema

Os fãs de ficção científica jamais esquecerão 1999 quando chegou aos cinemas o longa-metragem que causaria furor e mais uma revolução em matéria de efeitos especiais e movimentos de câmera. Estou falando do aclamado Matrix estrelado por Keanu Reeves que ganhou tanto dinheiro que nem precisaria atuar mais (Eu escrevi atuar?).

Proezas de tirar o fôlego. Efeitos alucinantes. Cenas de arrebentar. Keanu Reeves é Neo, o escolhido para destruir a Matrix. Ao seu como seu guia está Laurence Fishburne como o crente Morpheus e a esperançosa Trinity. Juntos eles lutam pela libertação da humanidade em Matrix, um suspense cibernético escrito e dirigido pelos irmãos Wachowski (Ligadas pelo Desejo). Um filme recheado de referências e citações que vão desde a Um Corpo Que Cai (1958), O Mágico de Oz (1939), filosofia, Alice no País das Maravilhas, Kung -Fu, e muito mais.

O filme fez enorme sucesso e ganhou quatro Oscars em 2000. Como não poderia deixar de ser, prêmios técnicos como Melhor Edição, Efeitos Sonoros, Efeitos Visuais e Som. Consequentemente os produtores logo inventaram que tudo fazia parte de uma “trilogia” e que aquilo era apenas o começo. Dois anos depois os fãs ficaram decepcionados com Matrix Reloaded e Matrix Revolutions, ambos realizados simultaneamente.

Em Matrix Reloaded (2002) Neo pode voar e enfrenta clones do agente Smith. Mas talvez nem mesmo o "Escolhido", com novos e impressionantes poderes, seja capaz de conter o avanço das máquinas. Neo, Morpheus e Trinity. Todos estão de volta no segundo capítulo da trilogia Matrix - juntamente com novos aliados batalhando contra inimigos que são clonados, evoluíram e estão cada vez mais próximos de destruir o último enclave humano no planeta. Segundo o produtor Joel Silver “Matrix Reloaded é um filme pleno de revelações, que abre caminho para inúmeras revoluções".

Os fanáticos por erros de continuidade alegam que em Matrix Reloaded ocorrem mais de 100. Mas nem tudo nesta continuação caça níqueis é perda de tempo.Pelo menos a seqüência da auto-estrada, que custou cerca de 100 milhões, é a melhor seqüência do longa-metragem. A rodovia foi construída especialmente para o filme dentro de uma base militar nos EUA e foi destruída após as filmagens.

O último capítulo da trilogia Matrix, intitulada Matrix Revolutions, não há outra opção para os humanos. Para Neo, isso significa ir aonde ninguém jamais ousou - o coração da Cidade das Máquinas para uma luta cataclísmica contra o cada vez mais poderoso programa renegado Smith na melhor seqüência do filme.

Matrix Reloaded foi rodado simultaneamente a Matrix Revolutions, com os filmes sendo lançados nos cinemas americanos com a diferença de 6 meses entre eles. Ambos os filmes levaram 4 anos para serem concluídos, entre pré-produção, filmagens e pós-produção.

Terra Média toma de assalto à tela grande

O cineasta Peter Jackson é um obstinado e ao mesmo tempo um predestinado. Ao assistir o clássico de 1933 dirigido por Merian C. Copper intitulado King Kong, Jackson sabia que estava escolhida ali a sua profissão – cineasta – e que cineasta. Setenta anos depois do filme original, Jackson realizou seu tributo ao filme que mudaria sua vida. Mas antes ele teve de realizar uma outra proeza ainda mais difícil e que para muitos, impossível – adaptar para o cinema a trilogia baseada na obra do escritor J.R.R. Tolkien - O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel, As Duas Torres e O retorno do Rei.

O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel (2001) é o primeiro filme da trilogia. Nele, o hobbit Frodo (Elijah Wood) herda a missão de salvar a Terra-Média do perverso Sauron, o Senhor do Escuro. Ele precisa conduzir o Um Anel até a Montanha da Perdição e destruí-lo para sempre. Para isso, conta com a aliança de oito bravos companheiros, que formam a Sociedade do Anel.

O filme é um convite para o mundo fantástico de Tolkien e suas criaturas mágicas como Hobbits, Elfos, Orcs e Magos. Para viver os personagens imortalizados pelos livros, o diretor Peter Jackson escolheu um elenco de estrelas: Elijah Wood (Tempestade de gelo), Ian McKellen (Deuses e monstros), Liv Tyler (Beleza roubada) Viggo Mortensen (O Pagamento final) , Sean Austin (Os Goonies), Cate Blanchett (Vida bandida), John Rhys Davies (Os caçadores da Arca perdida), Ian Holm (Tarzan, a lenda de Greystoke) e Orlando Bloom (Cruzada)

Com roteiro, produção e direção de Peter Jackson, o Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel ganharia quatro estatuetas do Oscar - Fotografia, Efeitos Visuais, Trilha Sonora e Maquiagem.

Os prêmios foram bem vindos, mas Peter Jackson encerrava a pausa nas filmagens e dava continuidade ao trabalho com a realização de O Senhor dos Anéis - As Duas Torres: A Sociedade do Anel se rompeu, mas a saga para destruir o Anel continua. Frodo e Sam são obrigados a confiar suas vidas a Gollum se quiserem chegar a Mordor. À medida que o exército de Saruman se aproxima, os membros sobreviventes da Sociedade, juntamente com outros povos e criaturas da Terra-média, preparam-se para a batalha.

Em Helm desenvolvem-se as melhores cenas de ação do filme. Todos os guerreiros de Saruman ganharam vida através de uma combinação de ação, miniaturas e o uso do software Massive, de propriedade da Weta Digital, dando raciocínio e vontade própria a cada personagem.
As Duas Torres também arrebanharia mais algumas estatuetas douradas do Oscar como Som, Edição Sonora, Efeitos Visuais, Direção de Arte e Montagem.

Finalmente quando chega às telas O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei acontece à esperada batalha final pela Terra-média. Frodo e Sam, guiados por Gollum, continuam sua perigosa missão em direção ao fogo de Mordor para destruir o Um Anel. Aragorn luta para completar seu legado quando lidera seus inúmeros seguidores contra o poder crescente de Sauron, o Senhor das Trevas, para que aquele que carrega o Um Anel possa completar sua missão. Peter Jackson encerra sua saga.

O Retorno do Rei entrou para a história do Oscar como a primeira fantasia a vencer como melhor filme. Além disso, recebeu todos os prêmios da cerimônia pelas quais foi indicado, igualando-se as 11 estatuetas de Ben-Hur (1959) e Titanic (1997). A trilogia O Senhor dos Anéis foi filmada simultaneamente, em um período contínuo de 18 meses cobrindo mais de 100 locações na Nova Zelândia. As filmagens foram enriquecidas por dois anos de pré-produção e outros dois de pós-produção.

No total, a realização ocupou sete anos do diretor, roteirista e produtor Peter Jackson. O script de mais de 400 páginas também deu trabalho para muitas outras pessoas: além dos 114 personagens com falas, 20.602 extras foram usados nos três filmes e no auge da produção havia 2.400 pessoas trabalhando entre as equipes técnica e de criação. A criatura em CGI, Gollum, que foi eleito por uma lista de especialistas da revista Premiere como o 10º personagem mais importante da história do cinema.

Os fãs aguardam ansiosos pela chegada do Hobbit um novo filme baseado na obra de Tolkien tendo na direção ninguém menos que Peter Jackson que conhece muito bem o universo da Terra- Média.

Dos quadrinhos para as telas de cinema

Depois do fracasso vertiginoso do longa-metragem Batman e Robin dirigido pelo alegórico Joel Schumacher (Batman eternamente) os produtores ficaram com receio de produzir uma adaptação de personagens de revistas em quadrinhos para o cinema. Felizmente com a estréia e o sucesso de X-Men, o filme em 2000 o cenário mudou e a sensação de que daí para frente tudo seria diferente trouxeram à tona novos projetos.

A direção de Bryan Singer e a escalação de um ótimo elenco que incluía o até então desconhecido Hugh Jackman (que ganhou o papel quando o ator escalado sofreu um acidente nas filmagens de Missão: Impossível 2) para o papel de Wolverine, Patrick Stewart como Charles Xavier, Ian McKellen interpretando Magneto e ainda Famke Janssen , James Marsden, Halle Berry, Anna Paquin, Tyler Mane, Ray Park, Rebecca Romijn-Stamos, Bruce Davison.

Nascidos em um mundo cheio de preconceitos, estão alguma crianças que possuem poderes extraordinários e perigosos - resultado de mutações genéticas especiais. Ciclope (James Marsden) lança raios de energia com seus olhos. Tempestade (Halle Berry) consegue manipular o clima segundo sua vontade. Vampira (Anna Paquin) absorve a força vital de qualquer pessoa que ela toque. Mas sob a orientação do Professor Xavier (Patrick Stewart), estes e outros renegados aprendem a direcionar seus poderes para o bem da humanidade. Agora eles devem proteger aqueles que os temem, pois o traiçoeiro Magneto (Ian McKellen), que acredita que os humanos e os mutantes nunca poderão coexistir, prepara um plano sinistro para o futuro!

Com o sucesso do primeiro filme em 2003 Bryan Singer entrega a esperada seqüência X-Men 2. Agora, após ser desfechado um ataque contra o presidente dos Estados unidos, uma guerra entre humanos pode ser deflagrada. As notícias do ataque causam clamor público contra os já malvistos mutantes. Os opositores contam com o apoio do General William Stryker (Brian Cox), um líder militar que vem lutando para controlar e restringir todos aqueles que são diferentes. Stryker coloca em ação um plano para extinguir os mutantes na face da Terra.

Os X-Men, um grupo de mutantes reunidos em boa causa, precisam lutar juntos contra um inimigo comum (Stryker) para salvar os mutantes e possivelmente toda a humanidade. X-Men 2 é um filme de muita ação, no qual muitos segredos são desvendados durante a luta do bem contra o mal.

O momento decisivo estava sendo apenas adiado e o dia do embate é inevitável. Em 2006, Bryan Singer abandona os X-Men para se dedicar ao longa-metragem que marcaria a volta do Homem de Aço. No entanto um novo diretor teria de ser escolhido o mais rápido possível. Brett Ratner foi o eleito e realizaria o que muitos achavam impossível, ou seja, o melhor filme da franquia - X-Men: O Confronto Final (2006)

A trama gira em torno da descoberta de uma controversa "cura", os mutantes podem escolher manter seus poderes super-humanos ou abdicar de seus dons exclusivos e tornarem-se "normais". Quando o pacifista líder mutante Charles Xavier diverge de seu oponente mutante Magneto, suas visões opostas podem desencadear a guerra que acabará com todas as guerras! Com ação ininterrupta, efeitos especiais espetaculares X-Men O Conflito Final é uma força da natureza.

Liberdade, Igualdade e Fraternidade matéria prima para bom cinema ou uma trilogia francesa

A Trilogia das Cores concebida pelo cineasta Krzysztof Kieslowski começou em 1993 com a estréia de A Liberdade é Azul (Trois Couleurs: Bleu) que se passa na França, início dos anos 90, às vésperas da Unificação Européia. Juliette Binoche (O Paciente Inglês) é Julie que perde o marido, um famoso compositor, e a filha num trágico acidente de carro. Traumatizada, ela procura se libertar de tudo que lhe lembre o passado e, aos poucos, tenta reencontrar a vontade de viver.

Em 1994, Kieslowski lança a segunda parte de sua trilogia, intitulada A Igualdade é Branca (Trois Couleurs: Blanc) protagonizado por inexpressiva Julie Delpy (Antes do amanhecer). Delpy interpreta a francesa Dominique que casada com o polonês Karol muda-se para Paris. O casamento não dá certo e Dominique pede o divórcio. Karol passa a viver como mendigo na capital francesa. Após muitos contratempos, ele volta para Varsóvia, onde consegue enriquecer. Ainda apaixonado, Karol trama uma inusitada vingança contra a ex-esposa.

A Trilogia das Cores de Kieslowski é encerrada com A Fraternidade é Vermelha (Trois Couleurs: Rouge) também de 1994. Valentine vivida por Irène Jacob é uma jovem modelo que vive em Genebra. Certo dia, atropela uma cachorrinha e, preocupada, sai em busca de seu dono. Assim, conhece o homem que mudará a sua vida: um juiz aposentado interpretado por Jean-Louis Trintignant (Um homem,uma mulher) que passa os dias espionando as conversas telefônicas de seus vizinhos. É o início de uma história de redenção, compaixão e perda sobre a comunicação entre os homens.

Neste último capítulo arquitetado por Krzysztof Kieslowski é possível ao mesmo tempo unir a grandiosidade e a simplicidade deste cineasta que soube como poucos contar uma história através de personagens que passam pela vida uns dos outros causando,como acontece na vida real, mudanças que transformam, inspiram e mostrando um novo sentido para a vida de cada um deles.

O silêncio como forma de dizer algo importante ou uma trilogia suéca

A Trilogia do Silêncio, também conhecida como Trilogia da Fé, é um dos pontos altos da filmografia de Ingmar Bergman. Esta trilogia conta com os filmes Através de um Espelho (1961), Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro; Luz de Inverno (1962) e O Silêncio (1963) trazendo no elenco atores e atrizes habituais da filmografia do diretor sueco como Harriet Andersson e Max Von Sydow.

Acaba de ser lançado um pack em embalagem de luxo traz estas três obras-primas que constituem esse monumento cinematográfico: Todos os filmes são apresentados em impecáveis versões restauradas e remasterizadas, que resgatam a beleza da fotografia em preto e branco do genial Sven Nkyvist.

A dor da falta de comunicação através do cinema ou uma trilogia italiana

Outra trilogia sobre o silêncio também faz parte da filmografia do diretor italiano Michelangelo Antonioni que realizou A aventura (1960); A noite (1961) e por último, O eclipse (1962).

A primeira parte da trilogia, o filme A aventura com Gabrielle Ferzetti e Monica Vitti nos papéis principais, não é apenas uma crônica sobre o vazio, a angustia, a incomunicabilidade vigentes numa sociedade, mas também, principalmente, uma obra em que são exploradas ao máximo as possibilidades da expressão cinematográfica, onde Antonioni despreza o dialogo, a montagem, o som e a música, e que o significado é transmitido ao espectador através da imagem.

A história é bem simples:uma rica e jovem romana (Lea Massari) embarca num cruzeiro com o amante e um arquiteto, vivido por Gabrielli Ferzetti. Ela desaparece numa ilhota deserta. Com uma de suas amigas (Monica Vitti), o arquiteto percorre a Sicília em busca da desaparecida, que os dois acabam a esquecendo, tornando-se amantes.

O segundo filme desta trilogia, A noite, traz no elenco três monstros sagrados do cinema europeu – Marcello Mastroiani, Jeanne Moreau e Monica Vitti, que parece fazer a ligação entre os três filmes, pois atua em todos eles.

Poucos filmes, como este A noite expressam, ao mesmo tempo duas questões essenciais e aparentemente contraditórias: a grandeza do cinema e a crise da nossa civilização. Michelangelo cultua um cinema voltado com todo o seu poderio expressivo, para a dor e a solidão do homem moderno. O cineasta termina por concretizar em imagens o mais inteligente, amplo e revelador painel sobre os descaminhos do nosso mundo e o sofrimento dos seres que nele vivem.

Em 1962, Michelangelo encerra sua trilogia com O eclipse. A história também é bem simples. Um jovem, mais uma vez Monica Vitti, após romper com um amante mais velho, encontra-se de férias em Roma, e se torna amiga de corretor da bolsa vivido por Alan Delon. Tudo vai aparentemente bem, até que um acidente lhe revela a baixeza do homem. Pura desculpa para mostrar a fragilidade dos relacionamentos, a instabilidade moral e ainda o drama da incomunicabilidade humana.

Última parte da trilogia iniciada com A aventura e A noite. Mal acolhido pela crítica e pelo público, este filme, segundo os críticos, é superior ao antecedente. O filme possui seqüências belíssimas como o rompimento dos amantes; o encontro no apartamento do corretor; e ainda o passeio da mulher sozinha por um bairro, onde, a noite cede surdamente a palavra à água, aos vegetais, e insetos. Para Michelangelo Antonioni, o silêncio precisa apenas de imagens. O resto é desnecessário, principalmente no cinema realizado por ele. O pior é que o cineasta tem razão.

Sim, nós também temos trilogias

Como estamos falando de trilogias com certeza as duas únicas realizadas por cineastas brasileiros não poderiam deixar figurar aqui. Houve um tempo em que Arnaldo Jabor ganhava a vida tentando fazer cinema e que o cineasta Roberto Faria, que dirigiu filmes sérios como Assalto ao trem pagador, realizaria também filmes escapistas como os protagonizados por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléia.

Começamos com a Trilogia do Apartamento, assim batizada pelo próprio Jabor. A trilogia teve início em 1978 com a realização do longa-metragem Tudo bem, que é a história de uma família cercada de Brasil por todos os lados, que se acha capaz de viver isolada dos males do mundo. Até que chegam os operários para reformar a casa, e com eles o cortejo de loucuras da vida lá fora. Numa comédia corrosiva, Tudo Bem mostra o caos nosso de cada dia. É uma comédia sobre o conflito entre as classes sociais que se concentram neste microcosmo que é o apartamento.

Nas palavras de Arnaldo Jabor: "Em Tudo bem, eu tento mostrar a realidade e as fantasias ridículas dentro de nossa classe média e a tragédia dos miseráveis que circulam fora. O filme pretende provocar um riso político e crítico no espectador."

Em 1981 Jabor reúne dois dos maiores símbolos sexuais do cinema nacional – Sônia Braga e Vera Fischer – em Eu te amo uma fantasia romântica sobre o desejo e a paixão que se tornaria um grande sucesso de público nos anos 80. Ainda no elenco Paulo César Pereio e Tarcísio Meira.

Tudo se passa dentro de um apartamento fantástico, como um caleidoscópio ou um palácio de espelhos, onde os delírios do amor e do sexo se refletem num ritmo alucinante. É a história de um homem, industrial falido no milagre dos anos 70, e de uma mulher que desejam desesperadamente se amar e que, ao mesmo tempo, têm um medo brutal desse encontro. Eu Te Amo começa como drama psicológico, evolui para a comédia e erotismo e acaba como um grande delírio musical.

Com produção de Walter Clark, roteiro e direção de Jabor e músicas de Antonio Carlos Jobim, Chico Buarque, César Camargo Mariano, Eu te amo sairia campeão do Festival de Gramado 1981 premiado como melhor design de produção, som, fotografia e atriz para Sônia Braga.

Cinco anos depois de Eu te amo, Arnaldo Jabor encerra sua trilogia do apartamento com Eu sei que vou te amar (1986) que acompanha um casal jovem que se ama até o delírio resolver viver em duas horas um jogo da verdade sobre tudo o que já lhes aconteceu, numa psicanálise filmada com risos e lágrimas.

Pela sua atuação Fernanda Torres recebeu o Prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cinema de Cannes de 1996 Fernanda divide a cena com Thales Pan Chacon.

Roberto Carlos em ritmo de aventura na música e no cinema

Para quem se acostumou com as manias do “rei” Roberto Carlos talvez tenha esquecido que houve um tempo que ele era menos arredio e que atuou em três filmes dirigidos por Roberto Farias – Roberto Carlo em ritmo de aventura, Roberto Carlos e o diamante cor-de-rosa e Roberto Carlos a 300 km por hora – misturando música, aventura, escapismo que deixaram saudade no cinema brasileiro. Claro que os filmes estão longe de serem obras primas cinematográficas,mas pelo menos têm a pretensão de apenas divertir.

Com produção e direção de Roberto Farias, Roberto Carlos em ritmo de aventura (1967) é um filme que possui ingredientes que agradaram o público da época, ou seja, ritmo, ação e emoção não faltam nesta história de intrigas internacionais. O Rio de Janeiro com suas belezas naturais e Nova Iorque com sua magnitude servem como pano de fundo para o desempenho de Roberto Carlos. Tudo renegado com suas inesquecíveis canções: Como é Grande o Meu Amor, Eu Sou Terrível, Eu Te Darei o Céu.

Pela primeira vez como protagonista de um filme, Roberto Carlos dispensou dublês e teve que viver várias cenas perigosas nesta superprodução de Roberto Farias. Para se desvencilhar de bandidos internacionais que querem raptá-lo, RC abusa de acrobacias como descer dentro de um carro pendurado num guindaste e atravessar o Túnel do Pasmado no Rio de Janeiro pilotando um helicóptero, esta a melhor seqüência do filme.
O filme teve locações como o Corcovado, o Maracanã e a Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, além das seqüências gravadas em São Paulo e em Nova York. As filmagens com helicóptero chegaram a parar o trânsito de Copacabana. Para rodarem cenas no Cabo Kennedy, nos Estados Unidos, a ousada produção do filme conseguiu um feito inédito: autorização da NASA para filmar nas torres de lançamento de foguetes. Como resultado, Roberto passeia pelo espaço, em imagens que mostram a Terra fora da atmosfera.

Roberto aparece cantando sucessos como "Namoradinha de um amigo meu", "Negro Gato", "Eu te darei o céu", "Eu sou terrível", "Como é grande o meu amor por você", "De que vale tudo isso", "Por isso corro demais" e "Quando", esta cantada numa cena antológica em que Roberto se apresenta no alto de um prédio (confira no vídeo abaixo). A trilha sonora de "Roberto Carlos em ritmo de aventura" foi lançada num disco com este mesmo nome em novembro de 1967.

No elenco além de Roberto Carlos; o eterno vilão das chanchadas José Lewgoy, Reginaldo Farias, irmão do diretor e Rose Passini interpretando a mocinha.

A aventura seguinte Roberto Carlos e o diamante cor de rosa (1968), também produzido e dirigido por Roberto Farias, o cineasta reúne o famoso trio dos tempos do programa Jovem Guarda – Roberto, “Tremendão” Erasmo Carlos e a “Ternurinha” Wanderléa.

Este filme tornou-se um dos maiores êxitos de bilheteria da época. Os três amigos viveram aventuras em vários países da África e da Ásia, atrás de um diamante perdido dois mil anos antes, e enfrentando um grupo de bandidos, liderados por José Lewgoy.

Neste filme Roberto lançou diversos sucessos. Os três enfrentam situações arriscadas ao som de sucessos da década de 60, como "Não vou ficar" e as "As curvas da estrada de Santos". Nele, os truques cinematográficos da época não foram poucos, e nem as namoradinhas, que ao todo eram sete.

Rodado em Israel, no Japão, em Portugal e no Brasil, o filme mostra os três maiores ídolos da Jovem Guarda (Roberto, Erasmo Carlos e Wanderléa) vivendo uma série de aventuras por causa de um valioso diamante cor-de-rosa. A confusão começa quando Wanderléa compra uma estatueta antiga que desperta a cobiça de um bando liderado pelo personagem de José Lewgoy.

A "Ternurinha" some inexplicavelmente e a dupla Roberto e Erasmo resolve investigar a origem da escultura. Eles descobrem que o objeto guarda o mapa do esconderijo de um diamante levado para o Brasil em 2.800 A.C. por navegantes fenícios. Depois de se disfarçarem e até se envolverem em uma luta de espadas com samurais, os dois acabam resolvendo o mistério.

As gravações de "Roberto Carlos e o diamante cor-de-rosa" duraram cerca de um ano e o resultado final é um filme cheio de sucessos como "Não vou ficar", de Tim Maia, e a instrumental "O diamante cor-de-rosa".

Roberto Farias encerra a trilogia com o regular Roberto Carlos a 300 km/hora (1971) que traz no elenco além da dupla Roberto e Erasmo Carlos (desta vez Wanderléa ficou de fora) Libânia Almeida, Raul Cortez, Otelo Zeloni, Walter Foster, Flavio Migliaccio, Reginaldo Farias, Mario Benvenuti.

O filme, segundo Farias, “é a grande oportunidade do público descobrir o grande intérprete cinematográfico que existe em Roberto Carlos. Entre a fúria das máquinas que roncam a cada curva e os braços da mulher amada, ele mostra sua nova face de ator”.

Neste filme, Roberto Carlos vive Lalo, um mecânico de uma revendedora de carros que quer ser piloto de automobilismo, sonho que divide com seu melhor amigo, Pedro Navalha (Erasmo Carlos). O patrão dos dois, Rodolfo (personagem vivido por Raul Cortez), é um piloto que não consegue mais correr desde que um acidente o deixou traumatizado. Com a desistência de Rodolfo, Pedro planeja fazer com que Lalo corra no lugar do patrão em Interlagos.

A trama amorosa corre em paralelo, já que Lalo vive uma intensa paixão por Luciana (Libânia, foto à direita), namorada de Rodolfo, com quem pouco fala. Enquanto o sonhador personagem de Roberto tenta concretizar seus desejos, o espectador é presenteado com uma trilha sonora romântica da qual "De tanto amor” é o maior destaque.

No único longa-metragem em que Roberto não aparece cantando, o diretor Roberto Farias valorizou as cenas em que RC dirige carros de corrida. Em meio a roncos de motor e muita fumaça saindo dos pneus, estas são as seqüências mais movimentadas do filme.

Quase um ponto final, mas nunca se sabe.

Aqui encerramos nossa trilogia de artigos sobre as trilogias da história do cinema. Paramos por aqui pois não é nossa intenção esgotar o assunto. Esperamos que os caros leitores tenham gostado.

Humberto Oliveira
a fotomontagem foi produzida e cedida pela jornalisra Eliane Viana

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